Família do Congado de Ipatinga se apega à fé para superar perdas após chuva

15/01/2025

Por Rayllan Oliveira

Fonte:https://www.otempo.com.br/cidades/2025/1/15/familia-que-mantem-tradicao-do-congado-se-apega-a-fe-para-retomar-a-vida-apos-chuva-em-ipatinga

Cidade decretou estado de calamidade pública diante das fortes chuvas; mais de 500 pessoas estão fora de suas casas

 

Família afetada pela chuva no bairro Ipaneminha, em Ipatinga, tenta recomeçar a vida com a fé em Nossa Senhora do Rosário, padroeira do Congado

Família afetada pela chuva no bairro Ipaneminha, em Ipatinga, tenta recomeçar a vida com a fé em Nossa Senhora do Rosário, padroeira do Congado

 

IPATINGA* – De olhos atentos, a idosa Maria da Silva Oliveira, de 78 anos, observa o movimento tímido na rua principal do bairro Ipaneminha, na zona rural de Ipatinga, no Vale do Aço, em Minas Gerais. O exercício se tornou a única distração para quem “perdeu tudo” com a chuva que assolou a cidade no  último domingo (12). Restaram-lhe poucos bens e o terço, que agora segue pendurado em seu pescoço, revelando a fé de quem, há 55 anos, mantém a tradição do Congado — um bem imaterial que foi considerado Patrimônio Cultural do município em 2016. A fé é, segundo a idosa, o “combustível” para ajudar sua família a se reerguer após a chuva.

 

“Agora, só Deus e Nossa Senhora do Rosário para nos ajudar”, diz a idosa, fazendo menção à representação mariana, padroeira do Congado. A casa onde ela reside com o filho foi tomada pela água. Dos poucos bens materiais que a família tinha, apenas as camas, a geladeira e o fogão não foram danificados pela água. Dois dias após “a tragédia”, expressão utilizada pela idosa para se referir ao temporal, as marcas do volume da água ainda estão nas paredes — imagens que a fazem relembrar o momento de angústia enfrentado ao lado de seu filho. “Ajoelhei na cama e fiquei pedindo para eles nos guardarem (Nossa Senhora do Rosário e Deus)”, conta.

A idosa Maria da Silva Oliveira, de 78 anos, e o filho Albeny Costa, de 38, na casa destruída pela chuva no bairro Ipaneminha, em Ipatinga – Foto: Fred Magno / O TEMPO.

Idosa achou que água estava carregando seu filho

Ao perceber que a água havia entrado em sua casa, Maria diz ter escutado o barulho de seu filho, o autônomo Albeny Costa, de 38 anos, que colocava uma madeira na tentativa de impedir que mais água entrasse no imóvel. “Achei que a água estava carregando o meu filho. Comecei a gritar, pedindo para que ele ficasse na cama comigo. Mas ele estava acordado, ficou assim durante toda a madrugada”, relembra. A casa onde a família reside foi uma das quatro afetadas pela chuva no bairro Ipaneminha, conforme balanço da prefeitura de Ipatinga.

O distrito, localizado na zona rural, é um dos menos povoados do município mineiro, com 582 habitantes — sendo 288 homens e 294 mulheres, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), feito em 2010. “Aqui tudo é mais difícil, ainda mais por estar distante da cidade. Chega época de chuva, e as coisas parecem que pioram. É só pela misericórdia”, desabafa a auxiliar de serviços gerais Maria Aparecida Costa, de 51 anos, que também é filha de Maria da Silva Oliveira.

 

IPATINGA* – De olhos atentos, a idosa Maria da Silva Oliveira, de 78 anos, observa o movimento tímido na rua principal do bairro Ipaneminha, na zona rural de Ipatinga, no Vale do Aço, em Minas Gerais. O exercício se tornou a única distração para quem “perdeu tudo” com a chuva que assolou a cidade no  último domingo (12). Restaram-lhe poucos bens e o terço, que agora segue pendurado em seu pescoço, revelando a fé de quem, há 55 anos, mantém a tradição do Congado — um bem imaterial que foi considerado Patrimônio Cultural do município em 2016. A fé é, segundo a idosa, o “combustível” para ajudar sua família a se reerguer após a chuva.

“Agora, só Deus e Nossa Senhora do Rosário para nos ajudar”, diz a idosa, fazendo menção à representação mariana, padroeira do Congado. A casa onde ela reside com o filho foi tomada pela água. Dos poucos bens materiais que a família tinha, apenas as camas, a geladeira e o fogão não foram danificados pela água. Dois dias após “a tragédia”, expressão utilizada pela idosa para se referir ao temporal, as marcas do volume da água ainda estão nas paredes — imagens que a fazem relembrar o momento de angústia enfrentado ao lado de seu filho. “Ajoelhei na cama e fiquei pedindo para eles nos guardarem (Nossa Senhora do Rosário e Deus)”, conta.

A idosa Maria da Silva Oliveira, de 78 anos, e o filho Albeny Costa, de 38, na casa destruída pela chuva no bairro Ipaneminha, em Ipatinga – Foto: Fred Magno / O TEMPO.

Idosa achou que água estava carregando seu filho

Ao perceber que a água havia entrado em sua casa, Maria diz ter escutado o barulho de seu filho, o autônomo Albeny Costa, de 38 anos, que colocava uma madeira na tentativa de impedir que mais água entrasse no imóvel. “Achei que a água estava carregando o meu filho. Comecei a gritar, pedindo para que ele ficasse na cama comigo. Mas ele estava acordado, ficou assim durante toda a madrugada”, relembra. A casa onde a família reside foi uma das quatro afetadas pela chuva no bairro Ipaneminha, conforme balanço da prefeitura de Ipatinga.

O distrito, localizado na zona rural, é um dos menos povoados do município mineiro, com 582 habitantes — sendo 288 homens e 294 mulheres, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), feito em 2010. “Aqui tudo é mais difícil, ainda mais por estar distante da cidade. Chega época de chuva, e as coisas parecem que pioram. É só pela misericórdia”, desabafa a auxiliar de serviços gerais Maria Aparecida Costa, de 51 anos, que também é filha de Maria da Silva Oliveira.

+ Leia também: A cada dez pessoas, uma vive em áreas de risco em Ipatinga

Neto no meio da água

A água também entrou na casa onde ela estava com o filho e os dois netos. “Acordei com o meu cachorro latindo. Quando pisei no chão para ver o que era, percebi que tinha água por todos os lados. Fui correndo pegar meu netinho que estava dormindo na sala. Ele já estava no meio da água“, lembra. A residência de Maria está localizada ao lado da casa de sua mãe. “Não tive como ir ajudar, fiquei presa. A rua estava toda cheia de água, era impossível chegar”, destaca.

Assim como a mãe, ela também perdeu alguns de seus pertences. Situação que, para a auxiliar de serviços gerais, poderia ser evitada caso o distrito não se mantivesse “às margens” das ações do poder público. “Falta um pouco de apoio da prefeitura também. Tinham que arrumar essa rua, a estrada para o cemitério que passa em frente à minha casa. Convivemos agora com o medo, sem saber o que será amanhã. Resta confiar em Deus e em Nossa Senhora do Rosário”, expõe.

Por meio de nota, a prefeitura de Ipatinga informou que “mantém uma atuação constante e presente na região do Ipaneminha, com o objetivo de proporcionar mais qualidade de vida e desenvolvimento aos moradores da localidade”. A administração municipal garante ainda que realizou obras de manutenção na Unidade Básica de Saúde (UBS) e nas estradas rurais, “garantindo melhores condições de tráfego e segurança para os moradores da região”. A nota pode ser lida na íntegra abaixo.