Do Valongo à Favela: Exposição conecta passado escravo com favelas nos dias de hoje

03/02/2015

 

A principal exposição do Museu de Arte do Rio (MAR) de 2014 “Do Valongo à Favela: O Imaginário e a Periferia” abriu suas portas em maio para expor a história da zona portuária do Rio de Janeiro. A exposição que ia se encerrar ontem, agora foi estendida até 10 de maio de 2015.

O curador Rafael Cardoso explica a exposição em um vídeo no canal do YouTube do MAR: “Do Valongo a Favela: O Imaginário e a Periferia é uma grande exposição tocando nesse conceito de periferia a partir do fato que o MAR se localiza numa área do Rio de Janeiro que eu considero a primeira periferia do Brasil”.

Curadores Cardoso e Clarissa Diniz selecionaram cerca de 200 obras de arte, incluindo objetos históricos, iconografia e obras contemporâneas a serem exibidos na exposição. Vários artistas brasileiros comoAyrson HeráclitoCarlos Vergara e Lucia Rosa colaboraram com o museu neste projeto.

A exposição está apresentada de forma cronológica em dois grandes salões–-um narrando a era do tráfico de escravos e um mostrando a vida atual das favelas do Rio. Ao ligar o período do tráfico de escravos antecedente a 1888 com a formação da primeira favela na mesma área apenas dez anos mais tarde, em 1898, esta exposição fez uma óbvia ligação histórica que muitos foram ensinados a não enxergar: o passado escravo do Brasil e a existência de suas favelas estão intensamente ligados. Além disso, a visão e o tratamento dos escravos foram, em muitas maneiras, transferidos para os moradores das favelas. Em muitos aspectos, eles são os mesmos.

Os dois corredores são justapostos, um com paredes pretas e o outro com paredes brancas, respectivamente. Embora a maioria das obras sejam estáticas, existem também vídeos e áudios interativos para o público interagir.

A exposição no primeiro quarto é exibida em um espaço aberto, sem paredes separando as obras. Em vez de explorar diferentes espaços, os visitantes circulam em torno das paredes sob a luz fraca, aprendendo e refletindo sobre o passado escravista do país. O Brasil recebeu quatro milhões de africanos escravizados, mais do que qualquer outra nação e dez vezes mais que os EUA. Um barco velho e um círculo de fotografias no chão são exibidos no meio da sala.

A segunda sala é bem iluminada e os visitantes passeiam ziguezagueando ao redor de suas paredes brancas, sem uma peça central. Esta sala se distancia das imagens sombrias do cais do Valongo e se aproxima da mais recente história de 117 anos das favelas da cidade, também nascidas na região: uma exposição vibrante e de certa maneira otimista.

A História

Os bairros de Saúde e Gamboa no porto perto do Centro do Rio de Janeiro compõem uma área que é considerada por muitos a primeira periferia do Brasil. No século 18, este espaço não só serviu como local de chegada de ouro e diamantes do estado de Minas Gerais, mas também local de 500.000 africanos a serem comercializados como escravos no famoso cais de Valongo e mercado de escravos–mais do que o número total levado aos Estados Unidos ao longo de sua história.

No final do século 19, o Morro da Providência, também localizado na área do Porto, foi estabelecido como a primeira favela, e na região do porto conhecida como “Pequena África“. Estes dois locais logo adquiriram uma reputação de violência e imoralidade. “Entre preconceito e resistência à difícil realidade social“, o gênero mais conhecido da música brasileira nasceu lá neste momento: o samba.

O MAR

De acordo com os curadores da exposição Cardoso e Diniz, a exposição examina com a arte do “imaginário cultural” como esta área periférica foi formada. Ela mostra documentos históricos e imagens do local desde a era do Valongo até o nascimento da favela “como uma questão de interesse para a arte muito além dos limites geográficos de suas origens“.

O museu também ofereceu um curso gratuito e público sobre a história do Rio. O curso tem como objetivo discutir a exposição e “oferecer um panorama diversificado de pensamentos contemporâneos sobre a história do Rio de Janeiro”.

Com esta exposição, o MAR, que recentemente celebrou seu aniversário de um ano, está misturando arte com história, e ao mesmo tempo, reconhecendo e priorizando o significado cultural de sua localização. “Visibilidade é necessária”, os curadores escrevem “[para que] o respeito…também seja dado para aqueles que sempre foram excluídos e marginalizados”.

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