Artigo: Povos indígenas em Minas Gerais

26/12/2020

Por Pablo Matos Camargo

Atualmente vivem no Brasil mais de 800 mil indígenas, pertencentes a cerca de 305 povos, falando 274 línguas.

Em Minas Gerais há dezenove etnias indígenas. As etnias são: Maxakali, Xakriabá, Krenak, Aranã, Mukuriñ, Pataxó, Pataxó hã-hã-hãe, Catu-Awá-Arachás, Kaxixó, Puris, Xukuru-Kariri, Tuxá, Kiriri, Canoeiros, Kamakã, Karajá, Guarani e Pankararu.

As dezenove etnias que vivem atualmente no Estado de Minas Gerais são pertencentes ao tronco lingüístico Macro-Jê e Tupi-Guarani (Guarani) e contam aproximadamente com vinte mil indivíduos. Há uma grande população de indígenas que vivem nos centros urbanos. Estima-se que na região metropolitana de Belo Horizonte tenha de sete a dez mil indígenas. O número de etnias também não é estático, sendo que o processo de etnogêneses e as migrações são dinâmicos.

Nos centros urbanos como Belo Horizonte e Uberlândia, vivem, além de famílias destas etnias citadas acima, outras tantas famílias de etnias diversas oriundas de todas as regiões do Brasil e de outros países também, como os Warao da Venezuela e Quechua do Peru.

O povo indígena conhecido hoje como Krenak, habitante das margens do Rio Doce, município de Resplendor, na região Leste de Minas Gerais, formou-se ao longo de um processo histórico marcado pelo caráter violento da expansão econômica sobre aquela região, originalmente de densa mata atlântica, onde diversos grupos de ‘Botocudos’ – resistindo à colonização em outras zonas já ‘conquistadas’ pelos brancos – se abrigaram até meados do Século XX.

Os Botocudos – nome com o qual os portugueses pejorativamente os designavam, em referência aos adornos usados nas orelhas e nos lábios – ou Borum – termo que significa ‘gente’, em língua indígena, e que segundo o qual os Krenak designam hoje a si e aos demais índios, em oposição aos Kraí, os não-índios – eram falantes de uma mesma língua, apesar das significativas variações dialetais que serviam para demarcar diferenças entre os diversos grupos nos quais se compunham.

O grupo liderado por Krenak foi o último a negociar com as autoridades governamentais seu processo de ‘pacificação’ e ‘civilização’, ocorrido logo no início dos trabalhos do recém-inaugurado Serviço de Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores Nacionais, em 1911.

Hoje os Krenak sofrem com a situação de seu território tradicional que além de ser diminuto, onde não comporta a população de uma forma saudável, ainda tem as pressões e violações dos empreendimentos e da sociedade externa que destruíram o Watu, com a construção da UHE de Aimorés e o acidente / crime do rompimento da barragem das empresas Samarco/Vale/BHP BIllinton. A comunidade ainda sofre com a demora da demarcação do território tradicional que envolve o Parque Estadual dos Sete Salões.

O povo Aranã também tem sua origem na história dos Botocudos. Distinguiam-se, no entanto, politicamente, de outros grupos Botocudos, mantendo inclusive uma pequena variação dialetal, significativa da distância que mantinham estrategicamente, como forma de reafirmarem sua diferença dos demais. Os Aranã foram aldeados pelos missionários capuchinhos em 1873, no Aldeamento Central Nossa Senhora da Conceição do Rio Doce, onde grassaram epidemias que dizimaram a população. Alguns sobreviventes migraram para o Aldeamento de Itambacuri, de onde saíram os ancestrais dos Aranãs de hoje, para o trabalho em fazendas na região do Vale do Jequitinhonha. Hoje os Aranã se dividem em dois grupos, os Aranã Caboclo e os Aranã Índio, que lutam para que o(s) território(s) sejam identificados e homologados. A população vive hoje em Araçuaí, Coronel Murta e região metropolitana de Belo Horizonte.

Fixados nos municípios de Martinho Campos (fazenda Criciúma) e Pompéu (fazenda São José) – região centro-oeste mineira (aproximadamente 206 km de Belo Horizonte) – os Kaxixó somam cerca de 100 indivíduos na comunidade do Capão do Zezinho, área rural que concentra o maior contingente populacional Kaxixó. Foi a comunidade do Capão do Zezinho, localizada às margens do rio Pará, que deu início à luta Kaxixó pelo reconhecimento étnico oficial. Os Kaxixó viveram o processo da etnogêneses, pois ficaram durante dezenas de anos vivendo da invisibilidade étnica para se esquivarem do pré-conceito e da violência. Hoje, o território tradicional Kaxixó já foi identificado e publicado pela FUNAI, mas o processo da homologação da terra ainda é muito moroso.

Situados no nordeste de Minas Gerais, entre os vales do Mucuri e do Jequitinhonha, os Maxakali são habitualmente descritos pela literatura referente à etnia e pelos organismos governamentais ou não governamentais que atuam junto a eles a partir de uma dupla perspectiva: Por um lado, enfatiza-se a sua “resistência cultural” – a permanência da sua língua própria e o uso restrito do português apenas para as situações do contato interétnico; a intensa vida ritual e a recusa a se inserirem na lógica da produção capitalista – a despeito dos seus mais de duzentos anos de contato; e por outro, se lhes percebe como um “grupo problema”, devido ao alto grau de conflito e violência internos, ao alcoolismo e ás precárias condições alimentares e de saúde. Por “preservar” sua língua e tradições “originais”, os Maxakali tendem a ser percebidos como símbolo de resistência indígena em Minas Gerais e região. Eles se denominam como Tikum’Um, que em uma tradução literal significa “ Nós, os humanos”.  Na verdade, embora suas características e sua atual inserção no contexto dos demais povos indígenas da região sejam de fato excepcionais, ao contrário de outros segmentos indígenas que passaram por intensos processos de subjugação à autoridade colonial a partir do início do século XIX, e cujos descendentes atuais são resultantes de processos de transferências e amalgamentos compulsórios de segmentos étnicos e linguísticos em geral originalmente muito diversos, como, tipicamente, seus vizinhos e “parentes” Pataxó atuais, os atuais Maxakali descendem de apenas dois bandos desta etnia originalmente contatados em áreas próximas à que ainda hoje se localizam.

Atualmente os Maxakali vivem em quatro áreas, as aldeias de Água Boa, município de Santa Helena de Minas; Pradinho e Cachoeira, no município de Bertópolis; aldeia Verde, no município de Ladainha e no distrito de Topázio, no município de Teófilo Otoni. Os grupos têm uma prática de migrações sazonais que passam pelo grande território tradicional que vai do médio Jequitinhonha, nas regiões de Araçuaí, até o Sul da Bahia, em Porto Seguro.

Há uma violência física e simbólica sistêmica em toda a região contra os indígenas Maxakali. Desde assassinatos, estelionato no comércio, entre outros. A demanda territorial dos Maxakali urge, além da recuperação ambiental dos territórios, que foram destruídos por atividades agropastoris.

As etnias Pataxó, Pataxó hã-hã-hãe, Kamakã, Xukuru-Kariri, Tuxá, Kiriri e Pankararu são oriundas de estados do nordeste.

Originários de Pernambuco, os Pankararu se espalharam por vários estados brasileiros ao longo do século XX. Este êxodo se deu devido à construção da hidrelétrica de Itaparica no Rio São Francisco, à seca, aos conflitos oriundos da luta pela terra e a inúmeras outras agressões. O grupo familiar de ‘Seu’ Eugênio Cardoso da Silva e Benvinda Vieira migrou desta região em busca de melhores condições de vida para seus filhos, tendo durante quase 30 anos convivido com outros povos, como: Krahô, Xerente, Karajá e os Pataxó de Minas Gerais. Hoje vivem em duas áreas no médio Jequitinhonha. A Aldeia Apukaré em Coronel Murta e na Aldeia Cinta Vermelha Jundiba, em Araçuaí, juntamente com os Pataxó.

O Povo Pataxó, originário do Sul da Bahia, ocupa a Fazenda Guarani, no município de Carmésia, desde a década de 1970, totalizando aproximadamente 400 pessoas. Há outros grupos que vivem no município de Itapecerica na Aldeia Muã Mimatxi; no Município de Açucena, na Aldeia Geru Tucunã; no Município de Guanhães, na Aldeia Mirueira e outro grupo no Município de Araçuaí, na aldeia Jundiba Cinta Vermelha, juntamente com a etnia Pankararu.

Conhecidos pelo seu semi-nomadismo, a chegada dos Pataxó em Minas é consequência de dois fatos históricos importantes: o primeiro o famoso ‘Fogo de 51’, caracterizado pela ação violenta da polícia baiana que desarticulou sua aldeia, dispersando o Povo Pataxó na região de Porto Seguro; e o segundo a transformação de 22.500 hectares de seu território em parque nacional – o Parque Nacional do Monte Pascoal, criado em 1943 e oficialmente demarcado no ano de 1961 – reduzindo nessa extensão o seu território tradicional.

A população de Pataxó também é grande nas regiões urbanas de Minas Gerais. Em Belo Horizonte, a presença Pataxó é muito grande e organizada. No Município de Governador Valadares há um grupo de aproximadamente vinte pessoas que vivem no distrito de Pontal.

Na Terra Indígena Fazenda Guarani, no município de Carmésia, são constituídas três aldeias: Aldeia Sede, Aldeia Encontro das Águas, Kanã Mihay e Aldeia Imbiruçu.

As Aldeias Geru Tucunã e Mirueira vivem um conflito com o Estado de Minas Gerais por estarem sobrepostas a duas unidades de conservação – O Parque Estadual de Rio Correntes e o Parque Estadual da Serra da Candonga respectivamente – ambos os parques só existem no papel e estão sendo destruídos por posseiros e ameaçados por interesses minerários. Há propostas de mudanças de categoria das unidades de conservações para que os indígenas possam regularizar a presença no território e continuar a exercer o uso sustentável do local, diferente dos posseiros, que destroem as áreas através das práticas insustentáveis agropastoris.

O Povo Xukuru-Kariri é oriundo do município de Palmeira dos Índios, em Alagoas. Após muitos conflitos de terra e mortes de indígenas, algumas famílias se mudaram para Ibotirama e depois para Glória, na Bahia. Também fugindo de conflitos nessas localidades, alguns integrantes deste grupo, vieram, em 1998, para Minas Gerais. Ainda em 1998, os Xukuru-Kariri solicitaram à Funai a compra de uma terra para o grupo em MG. Atualmente o grupo vive no município de Caldas, na região sul do Estado em uma terra cedida por cessão pela União e no Município de Presidente Olegário, região noroeste de Minas Gerais, em uma terra também cedida pelo SPU.

Os Kiriri vieram da Bahia, do Município de Moquém do São Francisco na Bahia, em decorrência da busca de melhoria de vida, visto que o seu território não comporta a população indígena e as condições climáticas na região estão cada vez mais extremas. Hoje ocupam um terreno do estado de Minas Gerais na cidade de Caldas. A terra que pertencia ao Governo do Estado de Minas Gerais foi repassada ao uso dos Kiriri mediante um Projeto de Lei da Dep. Estadual Andréia de Jesus, mediante a uma permuta de outra terra que pertencia ao Governo Federal.

Os Tuxá são oriundos de Rodelas na Bahia. Vieram para Minas Gerais na década de setenta, quando alguns indígenas trabalhavam na navegação do Rio São Francisco. Primeiramente ficaram em Pirapora, até ocuparem uma fazenda do estado de Minas Gerais no Município de Buritizeiro, na margem esquerda do Rio São Francisco.

Os índios conhecidos sob o etnônimo englobante Pataxó Hãhãhãe abarcam, hoje, as etnias Baenã, Pataxó Hãhãhãe, Kamakã, Tupinambá, Kariri-Sapuyá e Gueren, habitantes da região sul da Bahia. Hoje um pequeno grupo vive no município de Bertópolis, Minas Gerais. Na região metropolitana de Belo Horizonte há diversas famílias que vivem na cidade e em algumas ocupações na região metropolitana.

Os Mokuriñ pertencem ao grande grupo dos povos chamados “Botocudos”, aldeados em Itambacuri desde o século XIX pelos frades capuchinhos Frei Serafim de Gorízia e Frei Ângelo de Sassoferato. Os Mokuriñ vivem no município de Campanário. Os indígenas reivindicam a demarcação de seu território tradicional, hoje eles vivem em um território diminuto e insustentável. Há um Grupo de Trabalho constituído na FUNAI que tem como objetivo identificar e redefinir o seu território tradicional.

Antigos habitantes do Vale do São Francisco, os Xacriabá vivem no município de São João das Missões, Norte de Minas Gerais, a 720 Km de Belo Horizonte. Seu processo de contato com os não-índios não difere do ocorrido com os demais povos indígenas, em toda a sua história, sendo marcada por lutas e derramamento de sangue, o Bandeirante Matias Cardoso foi um grande algoz dos povos indígenas da região do Vale do São Francisco. Após o ano de 1728, depois de receberem título de posse de suas terras por terem apoiado o Estado na guerra com os Caiapó, viveram em relativa paz, convivendo com camponeses vindos da Bahia e de outras regiões de Minas Gerais em seus territórios e arredores, em que plantavam roças de subsistência. A partir de 1969, o desenvolvimento de projetos agrícolas na região atraiu fortes grupos empresariais e grandes fazendeiros das cidades vizinhas, acentuando-se a invasão das terras dos Xakriabá . Nos anos 1980, a tensão aumenta de forma insuportável, culminando no assassinato de grandes líderes indígenas. O Cacique Rosalino se tornou um grande mártir e símbolo da luta e da resistência do Povo Xakriabá.

A comunidade possui mais de dez mil indígenas, sendo uma das maiores populações étnicas do Brasil. Hoje são aproximadamente quarenta aldeias em 53.085 hectares e há um processo de revisão do território que irá ampliar a TI Xakriabá, retomando o acesso e o uso de locais tradicionais.

Os Xakriabá são muito organizados politicamente, tendo um cacique geral e diversas lideranças locais. Hoje eles estão no quarto mandato indígena consecutivo da cidade de São João das Missões.

O povo indígena Catú-awa-arachás encontra-se em Araxá, Minas Gerais, devidamente organizado na Associação Andaiá. Os Puris estão se organizando no município de Araponga, Piau, e Viçosa na região da Mata e na cidade de Barbacena. É bastante recente a emergência étnica destes dois povos.

Na região metropolitana de Belo Horizonte vivem diversas famílias de grupos étnicos distintos, de Minas Gerais e de outros estados, sobretudo da Bahia. Há grupos familiares de Aranãs, Xakriabás, Kaxixós, Karajás, Guaranis, Pataxós, Kamakã e Pataxós hã-hã-hãe, entre outros. Uberlândia também contabiliza uma grande quantidade de indígenas em sua malha urbana.

Estes grupos migraram para o centro urbano em busca de uma qualidade de vida melhor, já que muitos perderam o território ao longo da história de ocupação das áreas indígenas no interior do país. Os grupos que vivem na cidade possuem direitos e devem se organizar para buscá-los e reivindica-los perante o Estado e a sociedade envolvente.

A região metropolitana de Belo horizonte possui uma grande população indígena. No último senso do IBGE, mais de sete mil pessoas se identificaram como indígenas somente em Belo Horizonte. Este número é superlativo, pois a maioria destas pessoas não tem nenhuma relação com os grupos e/ou os territórios indígenas. Há uma população fixa e uma outra populacional sazonal de indígenas que estão na cidade para atendimento / tratamento de saúde; para estudar – há vários indígenas cursando o curso FIEI/ Faculdade de Educação da UFMG para formação superior de professores indígenas – e em outros cursos e / ou universidades e para vender artesanato.  Há hoje duas ocupações na região metropolitana de Belo Horizonte, uma na Fundação Caio Martins em Esmeraldas, com aproximadamente dez famílias da etnia Pataxó Ha-ha-hae e outra em São José de Bicas também com aproximadamente dez famílias das etnias Pataxó Ha-ha-hae, Puris e outras.

Em Belo Horizonte, a presença de indígenas nas ocupações recentes dos Movimentos de Luta por Moradia é muito grande, principalmente das etnias Aranã, Pataxó e Pataxó Ha-ha-hae.

No dia 01 do mês de janeiro de 2017, indígenas da etnia Kamakã, subgrupo Pataxó Hã-hã-hãe, apoiadas pela Associação dos Povos Indígenas de Belo Horizonte e Região Metropolitana (APIBHRM), e outras etnias como os Pataxó do extremo Sul da Bahia, ocuparam parte de uma das três fazendas da Fundação Educacional Caio Martins (FUCAM), denominada fazenda Santa Tereza, localizada no Município de Esmeraldas, na região metropolitana de Belo Horizonte. O município de Esmeraldas tem uma população de 66 mil habitantes. O nome Aldeia Kamakã Grayra, é em homenagem a Jacinta Grayra, última ancestral que falava a língua Kamakã. Interessante ainda notar o processo de reafirmação étnica pelo qual passam estas famílias indígenas em Esmeraldas, em busca de sua história ancestral que é Kamakã Mongoió, uma das seis etnias que compõe o Povo Pataxó Hahahâe, na Bahia.

O Estado de Minas Gerais, a Fundação Caio Martins, juntamente com outras entidades estão desde o início da ocupação discutindo uma alternativa para as famílias já que a Fundação não concorda com a presença dos indígenas no local. Indígenas que moravam na RMBH e possuíam uma série de problemas ligados à moradia, risco social, carência alimentar e dificuldade de acesso às políticas públicas, decidiram então ocupar esta fazenda depois que ficaram sabendo na própria Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) da existência de terrenos e benfeitorias em situação de abandono e que já teria sido voltada no passado à formação agrícola de centenas de jovens e outras ações educativas. Indignados com o descaso e com a falta de diálogo junto ao poder público, os indígenas decidiram retomar essa terra do Estado. Segundo as lideranças indígenas, a FUCAM é composta por três fazendas em Esmeraldas. A Fazenda de Santa Tereza, onde se encontram, Paulista e Vista Alegre. Segundo a cacique Marinalva Maria de Jesus, hoje estão 26 famílias na ocupação, mas na região metropolitana de Belo Horizonte há 57 famílias da etnia Kamakã que teriam interesse em ir viver no local. Há uma reintegração de posse já emitida pelo juiz responsável e o caso está na Mesa de Discussão de Conflitos Territoriais do Governo de Estado de Minas Gerais.

A origem das famílias é da Terra Indígena Caramuru Catarina Paraguaçu, no Município de Pau Brasil, no Sul da Bahia. A migração se fez necessária em decorrência de diversos conflitos de terra na região, onde muitas lideranças e famílias indígenas foram expulsas por grileiros e fazendeiros locais de forma violenta. O tratamento de saúde também motivou algumas famílias a buscarem melhores condições de tratamento em Belo Horizonte.

A busca por um território na região metropolitana de Belo Horizonte é uma demanda antiga de diversos grupos étnicos que vivem na cidade de Belo Horizonte. Há um grande problema de moradia, de acesso aos programas e equipamentos sociais na cidade. No local onde os indígenas estão, é necessária uma infraestrutura que abarque o acesso á saúde e a educação diferenciada. As famílias estão produzindo hortaliças, frutas e legumes; além de colher matéria prima para a confecção de artesanato e da produção de remédios. Há muita água na região e o solo é bastante fértil. As famílias querem ficar no local onde se encontram e onde já estão adaptadas.

Há um grupo Kamakã que está na cidade de Contagem.

Algumas organizações Não Governamentais estão dando apoio aos indígenas, como o CEDEFES – Centro de Documentação Elóy Ferreira da Silva, e a CPT – Comissão Pastoral da Terra. A Defensoria Pública do estado de Minas Gerais e o Ministério Público Federal também estão acompanhando o caso.

No mês de julho de 2017, indígenas das etnias Puri, Pataxó, Karajá e Kambioá realizaram a ocupação em uma área possivelmente pertencente às indústrias (antiga MMX/EBX) do empresário Eike Batista, no Município de São Joaquim de Bicas – MG. A área consiste em um total de setecentos hectares aproximadamente as margens do Rio Paraopeba.  Os indígenas estão ocupando aproximadamente 300 hectares, onde há uma grande área verde de Mata Atlântica e algumas manchas de cerrado. Segundo os indígenas a biodiversidade é grande no local, com a presença de muitos animais, alguns em perigo de extinção, como o Lobo Guará, o Bugio e a Jaguatirica, entre outros. O restante da área está ocupado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terras. O MST está na área desde junho de 2017 e desde então, segundo os relatos, nunca houve qualquer tipo de contestação, a ocupação se chama Terra Livre. A ida dos indígenas para a região se deu a convite do próprio MST. A reivindicação dos indígenas por uma área na região metropolitana de Belo Horizonte já é antiga. Há uma grande presença de famílias indígenas na região metropolitana, vivendo em aglomerados e periferias.

A liderança do Movimento é o Cacique Pataxó Arakuã Pataxó, escolhido pelos indígenas como representante do coletivo. Atualmente estão vivendo aproximadamente dez famílias Pataxó e Pataxó Hahahãe, sendo que famílias de outras etnias frequentam sazonalmente a ocupação. A Aldeia foi batizada como Naô Xohãn.

A área em que os indígenas estão ocupando e reivindicando fica entre o Rio Paraopeba e o final do acesso auxiliar da BR 381 no sentido Brumadinho. Na outra margem do rio já é Município de Mário Campos e Brumadinho. O acesso de ônibus se dá pelo pontilhão Funil, bastante conhecido na região. A ocupação está bem próxima da entrada principal do Museu de arte contemporânea Inhotim. A região onde se encontram os municípios de São Joaquim de Bicas, Mário Campos e Brumadinho possuem muitas atividades mineradoras, comércio, assentamentos de reforma agrária, comunidades quilombolas e condomínios fechados.

As atividades minerárias na região são as que mais impactam o local, com a poluição e assoreamento do Rio Paraopeba e de nascentes próximas ao local. Há três grandes minerações no entorno da ocupação.

Na ocupação, apenas três famílias recebem o Bolsa Família e três pessoas recebem aposentadoria. Não há nenhuma assistência social ou apoio institucional aos indígenas no local. Por isto, as famílias se revezam no local, sendo que muitos voltam para Belo Horizonte, onde realizam trabalhos formais e informais, como a venda de artesanato no centro da cidade e apresentações em escolas. Há uma demanda grande de aproximadamente vinte famílias, ou mais para ocuparem o local.

Além das reivindicações universais, de acesso aos programas governamentais e a cidadania com saúde, educação, moradia… os indígenas reivindicam um local onde possa servir de referência, para o Estado, para os grupos que migram sazonalmente para a cidade e principalmente para poderem vender o artesanato.

Na data de 25 de janeiro, a barragem da Vale de rejeitos de minérios em Córrego do Feijão no Município de Brumadinho se rompe e atinge o Rio Paraopeba. O Rio que passa na Aldeia Naô Xohã e era utilizado pelos indígenas para pesca, banho e rituais se inviabiliza, causando um enorme impacto sobre o território em que eles vivem. Há o impacto econômico, onde a pesca fazia parte da alimentação das famílias e o impacto simbólico, pois o rio era utilizado para algumas práticas culturais, como a Festa das Águas.

Hoje, várias famílias que viviam na Aldeia, estão morando em Belo Horizonte, nos bairros do Taquaril, Jardim Vitória e Vila São Pedro.

Os Puri são originários da zona da Mata em Minas Gerais onde historicamente ocuparam e ocupam a região. Há uma literatura grande sobre a presença destes povos em Minas Gerais e no Norte do Rio de Janeiro, sobretudo no século XIX.  Hoje as famílias Puri se encontram no Município de Araponga, Piau, Barbacena e em Aimorés no Leste de MG.

 

Nome da Aldeia Terra Indígena Etnias Localização

 

Número de Famílias
Aranã Caboclo/ Araçuaí Aranã Caboclo Araçuaí/MG 50
Aranã Índio/Araçuaí Aranã Índio Araçuaí/MG 22
Cinta Vermelha Jundiba Aldeia Cinta Vermelha Jundiba Pankararu e Pataxó Araçuaí/MG 13
 Apukaré Aldeia Apukaré Pankararu Coronel Murta 02
(Guajajara) Guajajara Araçuaí/MG 01
Canoeiro Canoeiro Coronel Murta/MG 30
Mokurin Aldeia Mokurin Mokurin Campanário/MG 19
Aldeia Verde Aldeia Verde Maxakali Ladainha/MG 55
Hãm Kutok Aldeia Hãm Kutok Maxakali Ladainha/MG 95
Cachoeirinha Aldeia Cachoeirinha Maxakali Teófilo Otoni/MG 10
Pradinho TI Maxakali Maxakali Bertópolis/MG 220
Água Boa TI Maxakali Maxakali Santa Helena de Minas/MG 280
(Pataxó Hã Hã Hãe) Pataxó Hã Hã Hãe Bertópolis/MG 21
07 aldeias Krenak) –

Watu, Atoran, Nakrehá, Naknenuk, krenak, Takruk e Borun Erehé

TI Krenak Krenak Resplendor/MG 152
04 aldeias Pataxó – Encontro das Águas, Sede, Imbiruçu e Kanã Mirray TI Fazenda Guarani Pataxó Carmésia/MG 121
Geru Tucunã Pataxó Aldeia geru Tucunã Pataxó Açucena/MG 19
Xukuru-Kariri R. Warkanã Aldeia Xukuru-Kariri Xukuru-Kariri Presidente Olegário/MG 25
Kamakã Grayra Aldeia Kamakã Graya Pataxó Hã Hã Hãe Esmeraldas/MG 13
Mirueira Aldeia Mirueira Pataxó Guanhães/MG 07
Kiriri do Rio Verde Aldeia Kiriri Kiriri Caldas/MG 19
Nahô Xohã Aldeia Nahô Xohãn Pataxó Hã Hã Hãe São Joaquim de Bicas/MG 24
Katurama (Jardim Vitória) Pataxó Hã Hã Hãe Belo Horizonte/MG 21
(Taquaril) Pataxó Hã Hã Hãe / Pataxó Belo Horizonte/MG 12
(Céu Azul) Warao Belo Horizonte/MG 03
(Parque São Pedro) Pataxó Hã Hã Hãe / Pataxó Belo Horizonte/MG 14
Kamakã Mongoió Pataxó Hã Hã Hãe Belo Horizonte e Contagem/MG 55
(Uberlândia) Warao Uberlânia/MG 05
Muã Mimatxi Aldeia Muã Mimatxi Pataxó Hã Hã Hãe Itapecerica/MG 12
 Xukuru-Kariri Aldeia Xukuru-Kariri Xukuru-Kariri Caldas/MG 41
Kaxixó Aldeia kaxixó Caxixó Martinho Campos/MG e Pompéu/MG 36
(Pataxó Pontal) Pataxó Governador Valadares/MG 10
(Guarani) Guarani Governador Valadares/MG 02
Xakriabá – Brejo Mata Fome, Prata, Caatinguinha, Imbaúba, Rancharia, Sumaré, Sumaré I, Sumaré II, Peruaçu, Sumaré III, Barreiro Preto, Itapecuru, Morro Vermelho,

Riachinho, Pindaíba, Riacho dos Buritis, Forges, Itacarambizinho, Olho Dágua do Buriti, Pedrinhas, Lagoinha, Dizimeiro, Riacho Comprido, Sapé, Poção, São Domingos, Veredinha, Custódio, Santa Cruz, Boqueirão, Várzea Grande, Caraíbas, Ilha do Capão, Pedra Redonda, Morro Falhado, Riacho do Brejo, São Bernardo, Terra Preta, Brejinho, Remanso e Imbaúba

T I Xakriabá Xakriabá São João das Missões/MG e Itacarambi/MG 2.897
Tuxá Tuxá Setsor Bragagá Tuxá Buritizeiro/MG 21
Puri Puri Pirapora/MG 01
Tupinikim e Guarani – Pau Brasil, Comboios, Boa Esperança, Caieiras Velha, Irajá, Córrego do Ouro, Três Palmeiras, Piraque-Açu, Amarelo e Olhos Dágua TI Tupinikim Guarani  e Tupinikim Aracruz/ES 1.445
Chapada do Á Tupinikim Anchieta/ES
(Caparaó) Guarani Caparaó/ES – Dores do Rio Preto-ES
Puri Puri Aimorés
Puri Touros e Boné Puri Araponga 15
Puri Distrito Padre Brito Puri Barbacena 25
Puri Puri Piau 3
(Uberlândia) Etnias diversas Uberlãndia
(Belo Horizonte) Karajá Belo Horizonte
(Belo Horizonte) Guarani Belo Horizonte
(Belo Horizonte) Etnias diversas
Catu Awa Arachá Catú Awa Arachá Araxá

 

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