14ª Romaria das Águas e da Terra, Januária MG, 18 de Julho

15/07/2010

14° Romaria das Águas e da Terra de Minas Gerais:

Terra e Água partilhada, herança de Deus resgatada

 

Lívia Bacelete e Neusa Francisca do Nascimento

(Cáritas Regional Minas Gerais e Comissão Pastoral da Terra)

 

Januária recebe a 14ª Romaria das Águas e da Terra de Minas Gerais. No dia 18 de julho, a cidade se prepara para acolher cerca de 5 mil romeiros de todo o estado e do país.

Com o tema “Terra e água partilhada, herança de Deus resgatada” e o lema “Nas terras e águas dos Gerais, a memória da resistência de nossos ancestrais”, a Romaria será um momento de anúncio da vitória da vida e da organização do povo e denúncia frente à violência do sistema capitalista neoliberal.

A preparação dos romeiros aconteceu durante a Semana das Missões, dos dias 11 a 17 de julho. Nesta semana, os missionários visitaram famílias na zona rural e urbana da região, refletindo e discutindo os temas da Romaria. No dia 17 de julho, os romeiros começam a chegar em Januária para participar de uma noite cultural com apresentações da cultura popular das comunidades tradicionais. No dia 18, acontece a grande caminhada celebrativa da 14ª Romaria das Águas e da Terra, saindo da frente do Estádio Municipal de Januária às 8 horas.

O povo estará em Romaria em defesa das comunidades tradicionais, em enfrentamento aos grandes projetos de grupos empresariais e latifundiários e a favor de uma revitalização popular do Rio São Francisco.

O município de Januária e sua região são marcados pela presença de várias comunidades tradicionais, como os indígenas Xakriabá; os quilombolas; pescadores; vazanteiros; ribeirinhos; geraizeiros e outras, que lutam para garantir e preservar seus territórios.

A resistência dessas comunidades é um forte exemplo de profecia e poesia. Esta resistência denuncia a privatização das águas, do agronegócio, da violência do capital financeiro que adequa o ser humano e a natureza ao fator econômico. E anuncia a revitalização do Rio São Francisco, que precisa ser popular e levar em consideração a vida do rio e do seu povo; a convivência com o semiárido e a descoberta das riquezas do sertão, que como diz Guimarães Rosa é “onde o pensamento da gente se forma mais do que o poder do lugar”.

A força que vem da experiência das populações tradicionais ensina a usufruir das dádivas divinas, sem se esquecer da preservação para as gerações futuras.

 

As Romarias das Águas e da Terra

 

As Romarias são momentos de fortes manifestações religiosas, em que fé e vida movem o povo de Deus na busca pela transformação da atual sociedade excludente para o Reino. A construção deste lugar com “vida em abundância” para todos os filhos e filhas de Deus em comunhão com a criação, passa pela organização do povo que se coloca a caminho.

Em Minas Gerais, a Romaria das Águas e da Terra acontece desde 1996, como momento de celebração e reconhecimento da importância da Terra e Água. Esses bens vitais doados por Deus devem ser partilhados e preservados para as gerações futuras.

A luta pela conquista e preservação da terra e da água sempre foi um tema complexo, principalmente numa região esquecida pelos governantes e dominada pela corrupção como o Norte de Minas. Neste cenário, a Romaria das Águas e da Terra é um momento de anúncio e denúncia, na força do Espírito Santo e no seguimento de Jesus Cristo, frente à violência do sistema capitalista neoliberal.

 

Campanhas

 

Durante a Romaria, serão recolhidas assinaturas para duas campanhas: Limite da Propriedade da Terra e Opará.

A Campanha pelo Limite da Propriedade da Terra foi criada para acabar com a histórica concentração fundiária existente no país. Ela acontece em dois momentos. O primeiro consiste em um abaixo assinado que percorre todo país. No segundo momento, será realizado um plebiscito popular para conscientizar e mobilizar a sociedade brasileira sobre a necessidade e importância de se estabelecer um limite para a propriedade da terra.

A Campanha Opará trata-se de uma petição para o Supremo Tribunal Federal organizada pelos 33 povos indígenas do Nordeste impactados pela transposição das águas do Rio São Francisco.

 

Diocese anfitriã da 14ª Romaria das Águas e da Terra

 

A Diocese de Januária foi fundada em 10 de outubro de 1958. Anfitriã da 14ª Romaria das Águas e da Terra, a Diocese acolheu a primeira romaria de Minas Gerais em 1996, no município de Manga. Em 2010, acolhe novamente a Romaria como momento propício de diálogo sobre o cuidado necessário com toda a criação, na consciência de que a nossa condição de filhos e filhas de “Deus Trindade nos convoca à comunhão: ecológica, política, social que não compactua com a fragmentação da vida”.

A 14° Romaria das Águas e da Terra é organizada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), Cáritas Diocesana de Januária, Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Mitra Diocesana, Irmãs Paroquiais de São Francisco e da Divina Providência, Paróquia Sagrada Família e Nossa Senhora das Dores, ambas do município de Januária.

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