A busca por condições que garantissem a permanência no quilombo foi uma das motivações das criadoras do projeto ‘Kilombu Modas’

Por: Olhares do Campo (redação)

Criada em novembro de 2018, a marca de roupas ‘Kilombu Modas’ surgiu a partir da reunião de mulheres negras e quilombolas residentes do Quilombo Santa Cruz, comunidade campesina do município de Ouro Verde de Minas, no Vale do Mucuri (MG). Entre as integrantes, diferentes perfis, diferentes escolaridades, mas, em comum, o vínculo com o território.

Algumas das integrantes são estudantes ou egressas da LEC-UFJVM, meio pelo qual passaram a conhecer e seguir o projeto ‘Olhares do Campo’. Ao saber da iniciativa das quilombolas de Santa Cruz, fomos em busca de mais de informações a respeito da proposta da ‘Kilombus Modas’. Na página do Facebook temos acesso não apenas à divulgação de algumas das peças produzidas, como outras informações a respeito de eventos e atividades no Quilombo Santa Cruz. 

Algumas das peças produzidas pela Kilombu Modas. Fotos: Kilombu Modas, 2018.

A partir do diálogo com uma das integrantes, Josiany, obtivemos um material produzido pelas próprias criadoras do projeto contendo informações a respeito das motivações que levaram à criação da marca, bem como algumas reflexões realizadas pelas autoras a partir de suas perspectivas, trajetórias, territorialidade, vivências, entre outros. Conheça um pouco mais, portanto, sobre o projeto ‘Kilombu Modas”, suas criadoras, e sobre a comunidade Quilombo Santa Cruz a partir do relato abaixo, por elas mesmas originalmente produzido e aqui adaptado e editado pela equipe do ‘Olhares do Campo’:

SOBRE A KILOMBU MODAS

Grupo criado em novembro de 2018, composto por mulheres negras, quilombolas, do campo, residentes do Quilombo Santa Cruz, comunidade pertencente ao município de Ouro Verde de Minas (MG). A ideia surgiu no momento em que mulheres, preocupadas em gerar renda, resolvem criar condições que garantissem sua permanência no quilombo. Decidiram, assim, trabalhar com roupas customizadas com tecidos africanos.

O que é empoderamento feminino negro? Segundo Djamila Ribeiro, ‘para o feminismo negro, empoderamento possui um significado coletivo, trata-se de empoderar a si e aos outros e colocar as mulheres negras como sujeitos ativos de mudanças‘[1]. No caso das mulheres do Quilombo Santa Cruz, a caminhada para o processo de empoderamento também já perpassou por dificuldades encontradas por se tratarem de residentes de uma comunidade rural e negra. Mesmo diante dessas dificuldades, no entanto, podemos destacar que a juventude local tem um histórico de organização, lutas e realizações – resultando em acesso ao ensino fundamental e médio; oportunidades de renda; acesso a cultura, esporte e lazer; entre outros – o qual foi decisivo para viabilizar a permanência dessa geração no campo. Esse empoderamento se intensifica em 2005, quando a comunidade é reconhecida domo quilombola e certificada pela fundação Palmares.

A educação tornou se a nossa bandeira de luta. Isso porque não é possível sermos empoderadas se não conhecermos o processo de negação da nossa história, do nosso povo e da nossa raça negra. O acesso ao ensino superior contribuiu para o fortalecimento da nossa identidade, nosso empoderamento, nosso autoconhecimento e nossa autoestima. Possibilitou também a convivência com uma diversidade de outras culturas. Assim, com o projeto ‘Kilombu Modas’, além de uma fonte de renda, buscou-se a valorização de nossa cultura e nossa identidade. Prezamos pelo autoconhecimento, autoestima e reconhecimento de uma cultura e história que nos foi negada por anos de escravidão.

Desde já agradecemos aos nossos apoiadores e a todos aqueles que, assim como nós, sonham com a emancipação das mulheres na sociedade. E que de fato possamos alcançar a igualdade entre homens e mulheres pela qual tanto lutamos e com a qual tanto sonhamos.

Kilombu Modas

Quem faz parte do projeto Kilombu Modas?

São criadoras da marca Kilombu Modas e responsáveis pelo relato trazido:

Amaurisa Vieira de Souza, 31 anos. Graduanda no curso de Licenciatura em Educação do Campo na área da Ciência da Natureza na Universidade Federal de Viçosa;

Denalha Ferreira dos Santos, 25 anos. Formada no curso de Licenciatura em Educação Do Campo na área de Linguagem e Código pela Universidade Federal dos Vales Jequitinhonha e Mucuri;

Jacqueline Lisboa, 18 anos. Formada no ensino médio;

Josiany Vieira de Souza, 29 anos. Formada em Licenciatura em Educação do Campo na área de Linguagem e Código pela Universidade Federal dos Vales Jequitinhonha e Mucuri;

Josicleia Vieira de Souza, 23 anos. Formada no curso de Licenciatura em Educação do Campo na área Ciências da Natureza pela Universidade Federal dos Vales Jequitinhonha e Mucuri e Coordenadora Regional de Juventude Rural pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado de Minas Gerais (Fetaemg);

Maria Nilza Pereira dos Santos, 32 anos. Formada em Licenciatura em Educação Do Campo pela Universidade Federal de Viçosa na área Ciências da Natureza;

Vanuza Kátia Costa, 35 anos. Formada no ensino Médio.

E para entrar em contato?

Interessados podem entrar em contato pela página da Kilombu Modas no facebook, a qual pode ser acessada pelo link: https://www.facebook.com/jaqueline.azloan

[1] Ver: RIBEIRO, D. 2015. O empoderamento necessário. Disponível em: https://www.geledes.org.br/o-empoderamento-necessario/ . Acesso em: 01/06/19,

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