Primeiro e segundo lugar com menor proporção percentual de indígenas na população por unidade federativa são ocupados por RJ e SP, respectivamente

Minas Gerais tinha 36.699 pessoas autodeclaradas indígenas em 2022, cerca de 0,18% da população mineira(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

A população indígena do Brasil chegou a 1.693.535 de pessoas no ano passado – representando 0,83% do total de habitantes do país –, de acordo com o Censo Demográfico 2022, divulgado na manhã desta segunda-feira (7/8) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Minas Gerais é o terceiro estado com menor proporção de indígenas na população, com cerca de 0,18%, ficando à frente apenas de São Paulo (0,12%) e Rio de Janeiro (0,11%).

No Censo anterior, realizado em 2010, foram contabilizados 896.917 indígenas no país. De lá para cá, houve um aumento de 88,82%, enquanto o crescimento total da população nesse mesmo período foi de apenas 6,5%. Atualmente, Minas Gerais tem 36.699 indígenas entre seus habitantes, o que significa um aumento de 18% em relação ao levantamento de 2010, quando eram 31.112.

Para Marta Antunes, responsável pelo projeto de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE, o aumento do contingente de indígenas – que quase dobrou em 12 anos – pode ser explicado pelas mudanças metodológicas feitas para melhorar a captação dessa população.
“Só com os dados por sexo, idade e etnia e os quesitos de mortalidade, fecundidade e migração será possível compreender melhor a dimensão demográfica do aumento do total de pessoas indígenas entre 2010 e 2022, nos diferentes recortes. Além disso, existe o fato de termos ampliado a pergunta ‘você se considera indígena?’ para fora das Terras Indígenas (TIs). Em 2010, vimos que 15,3% da população que respondeu dentro das Terras Indígenas que eram indígenas vieram por esse quesito de declaração”, explica.
Para a pesquisa, o IBGE considerou como TIs aquelas declaradas, homologadas ou regularizadas até a data de 31 de julho de 2022. Com este critério, o Censo encontrou 573 Terras Indígenas, conforme dados da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) – um aumento de 13,5% desde 2010, quando foram registradas 505 Terras Indígenas.

População indígena para além das TIs

Anteriormente, o quesito de cor ou raça havia sido aplicado a todas as pessoas recenseadas no país, mas quando elas eram residentes de Terras Indígenas oficialmente demarcadas e se declaravam como brancas, pretas, pardas ou amarelas – e não como indígenas –, havia a abertura da pergunta “você se considera indígena?”.
Em 2022, houve a extensão dessa mesma pergunta para outras localidades indígenas, incluindo agrupamentos indígenas identificados pelo IBGE e ocupações domiciliares dispersas em áreas urbanas ou rurais com presença comprovada ou potencial de pessoas indígenas – e 27,6% da população indígena declarou-se dessa forma por meio dela.
Também no ano passado, foi constatado que cerca de 2 a cada 3 indígenas moravam fora de Terras Indígenas: em 2022, havia apenas 689.202 habitantes em TIs, e 90,26% deles (ou 622,1 mil) eram indígenas. O restante, cerca de 1,1 milhão de indígenas (63,27% do total), vivem fora dos territórios demarcados.
Três estados respondiam por quase metade (46,46%) das pessoas indígenas vivendo nas terras indígenas: Amazonas (149 mil), Roraima (71,4 mil), e Mato Grosso do Sul (68,5 mil). O Sudeste era a região com a maior proporção de indígenas que viviam fora desses territórios delimitados (82,56% ou 101,9 mil), seguido do Nordeste (75,43% ou 398,9 mil) e do Norte com 57,99% (436,9 mil).
O gerente de Territórios Tradicionais e Áreas Protegidas, Fernando Damasco, afirma que a investigação do Censo dentro e fora das Terras Indígenas foi um desafio, já que era a primeira vez que a pergunta de cobertura (“você se considera indígena?”) era aplicada fora dos territórios delimitados.

“Para que isso fosse possível, tivemos que mapear essas localidades. Toda a estrutura do IBGE foi mobilizada para fazer o mapeamento que representasse a diversidade territorial indígena. Os povos indígenas estão presentes nas cidades, em áreas urbanas, em áreas rurais, em áreas remotas, em favelas e todos precisam ser recenseados. Esse é um recorte importante não só para os órgãos indigenistas planejarem e executarem as políticas públicas direcionadas às terras indígenas, mas também porque revela uma demografia específica da população residente nessas áreas”, conta o pesquisador.

Presentes na maioria dos municípios brasileiros

Também de acordo com o Censo 2022, pelo menos uma pessoa autodeclarada indígena está presente em 4.832 (86,7%) dos 5.568 municípios brasileiros, acrescidos do Distrito Federal e de Fernando de Noronha.
Desses, ainda, 199 tinham mais de mil a cinco mil residentes indígenas; e 79 tinham mais de cinco mil habitantes declarados indígenas – em 2010, eram apenas 42 municípios com este quantitativo.
Os três municípios brasileiros com o maior número de indígenas são do Amazonas: a capital, Manaus, com o total de 71.713 mil pessoas; São Gabriel da Cachoeira, com 48,3 mil; e Tabatinga, com 34,5 mil. O segundo município também aparece entre aqueles que tinham o maior percentual de indígenas no total da população, com 93,17%. Nesse indicador, São Gabriel da Cachoeira fica atrás apenas de Uiramutã (96,60%), em Roraima, e Santa Isabel do Rio Negro (96,17%), também no Amazonas.

Proporção nas unidades federativas

Com a terceira menor proporção de indígenas na população (0,18%), Minas Gerais tem 36.699 pessoas autodeclaradas indígenas. Atrás dos mineiros, estão os estados de São Paulo, com 55.295 (0,12%) pessoas; e Rio de Janeiro, com 16.964 (0,11%).
O estado de Sergipe, apesar de ser o estado com menor número de residentes indígenas, ainda tem proporção maior de residentes indígenas em seu território do que os estados do Sudeste citados acima, com 0,21%.
Apesar de ser apenas o quinto estado com maior número de residentes indígenas, Roraima é o que tem maior proporção dessa população entre o seu total de habitantes: 15,29%. Os estados do Amazonas (490,9 mil habitantes indígenas) e da Bahia (229,1 mil habitantes indígenas), apesar de concentrarem 42,51% da população indígena do país, estão nos segundo e quinto lugares na proporção na população, com 12,45% e 1,62%, respectivamente. Confira:

População indígena por unidade da federação – em números absolutos

Amazonas – 490.854
Bahia – 229.103
Mato Grosso do Sul – 116.346
Pernambuco – 106.634
Roraima – 97.320
Pará – 80.974
Mato Grosso – 58.231
Maranhão – 57.214
Ceará – 56.353
São Paulo – 55.295
Minas Gerais – 36.699
Rio Grande do Sul – 36.096
Acre – 31.699
Paraná – 30.460
Paraíba – 30.140
Alagoas – 25.725
Santa Catarina – 21.541
Rondônia – 21.153
Tocantins – 20.023
Goiás – 19.522
Rio de Janeiro – 16.964
Espírito Santo – 14.411
Rio Grande do Norte – 11.725
Amapá – 11.334
Piauí – 7.198
Distrito Federal – 5.813
Sergipe – 4.708
Fonte: Censo população indígena 2022/IBGE

Proporção de indígenas na população por unidade da federação – Em %

Roraima – 15,29
Amazonas – 12,45
Mato Grosso do Sul – 4,22
Bahia – 1,62
Mato Grosso – 1,59
Amapá – 1,55
Rondônia – 1,34
Tocantins – 1,32
Pernambuco – 1,18
Pará – 1
Maranhão – 0,84
Alagoas – 0,82
Paraíba – 0,76
Ceará – 0,64
Espírito Santo – 0,38
Rio Grande do Norte – 0,36
Rio Grande do Sul – 0,33
Santa Catarina – 0,28
Goiás – 0,28
Paraná – 0,27
Piauí – 0,22
Sergipe – 0,21
Distrito Federal – 0,21
Minas Gerais – 0,18
São Paulo – 0,12
Rio de Janeiro – 0,11
Fonte: Censo população indígena 2022/IBGE
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