Indígena se forma em enfermagem em Minas e anuncia volta para área Xakriabá

15/09/2022

Por Luiz Ribeiro

Fonte:https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2022/09/15/interna_gerais,1394095/amp.html

Maiele Bispo de Souza cursou enfermagem na Unimontes, em Montes Claros, e agora luta para melhorar a saúde do seu povo em São João das Missões

 

A Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) realizou na terça-feira (13/9) a solenidade de formatura de 197 profissionais em 18 cursos oferecidos no seu campus-sede. Uma das tituladas foi Maiele Bispo de Souza, indígena da etnia Xakriabá, do município de São Joao das Missões, no Norte de Minas. Ela se formou em enfermagem e ingressou na instituição pública pelo sistema de cotas.

Na solenidade realizada no Salão de Eventos da 11ª subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Maiele chamou atenção por carregar um símbolo da cultura indígena: ela usou um penacho por cima da beca (roupa de formatura).
A nova profissional de saúde disse que enfrentou muitos desafios para entrar na universidade e concluir o curso. O primeiro foi “juntar a documentação para provar” a origem indígena para ser aceita pelo sistema de reserva de cotas. “Durante o curso, tive  momentos de lutas e vitórias. Enfrentei dificuldades e preconceitos, Mas sempre acreditei que iria conseguir (o diploma superior)”, afirma Maiele.

Importância das cotas

A integrante da etnia Xakriabá enaltece a importância do sistema. “As cotas representam um dos grandes benefícios que nos indígenas já conseguiram. Acredito que o diferencial em relação às cotas é que elas ajudam a promover a diversidade ética em profissões que são ocupadas tradicionalmente por brancos”, disse.
“Não se trata de privilégio. As cotas visam, sobretudo, acabar e diminuir com as desigualdade social e o racismo estrutural resultante de anos de escravidão no Brasil, que ainda excluem negros e indígenas da Universidade, do mercado de trabalho e dos espaços públicos”, complementou.

A jovem seguiu a trajetória de um irmão dela, Maciel Bispo da Silva, que cursou enfermagem em uma universidade pública pelas cotas. Ela informou que tem outro irmão graduado na mesma área, mas em uma faculdade particular de Montes Claros.

Na terra Xakriabá existem outros moradores que concluíram o curso superior pelo sistema de reservas de vagas nas universidades públicas. A etnia que totaliza 43 aldeias corresponde a mais de 70% da população de São Joao das Missões (13,2 mil habitantes), cidade de Minas com pior Indice de Desenvolvimento Humano (IDH) – 0,529.

Volta para casa

Maiele Bispo anuncia que, após a conclusão do curso de enfermagem, vai retornar para a  casa de sua família, na aldeia Brejo Mata Fome, na terra Xacriabá, distante 300 quilômetros de Montes Claros. Ela quer melhorar a assistência à saúde do seu povo.
“Vou retornar ao meu território e atuar nos cuidados junto à comunidade”, declarou. A indígena prometeu dar sequência aos estudos e se especializar nas áreas de saúde da família, do idoso e obstetrícia.
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