Exposição resgata línguas indígenas de 15 países e idioma extinto

03/02/2015

Vinícius Lisboa – Repórter da Agência Brasil

As últimas palavras de um idioma extinto na Patagônia, expressões guardadas na memória da última falante de uma língua e um vocabulário restrito a 50 palavras que restaram de um povo. A exposição O Papagaio de Humboldt, no Oi Futuro Flamengo, no Rio de Janeiro, será inaugurada amanhã (3) e vai proporcionar aos visitantes ouvirem 15 línguas indígenas de toda a América Latina, incluindo quatro do Brasil.

Idealizada pelo Instituto Goethe e com curadoria de Alfons Hug, a exposição conta com caixas de som nas salas, que criam uma atmosfera polifônica e exigem que o visitante se aproxime de cada uma para escutar com clareza as pronúncias.

“A ideia é criar um efeito de igreja. Quando você entra em uma igreja, ouve todos orando ao mesmo tempo. Ao se aproximar, você escuta de forma mais nítida, e o que chama a atenção é a diversidade”, conta Hug, que destaca que o resgate da linguagem desses povos é também um resgate de seus pontos de vista: “Sempre se fala da diversidade biológica e da preservação de animais e plantas. Mas essas línguas também representam a riqueza dos povos indígenas”.

Além dos sons, a exposição traz o nome de 550 idiomas indígenas escritos nas paredes das salas, que são divididas conforme as regiões onde são faladas. Além do Brasil, há idiomas do Uruguai, da Argentina, do Chile, da Bolívia, do Peru, da Venezuela, do Paraguai, Equador, da Guatemala, Costa Rica, Nicarágua e do Panamá.

A captura dos sons reproduzidos nas instalações sonoras foi feita por artistas plásticos e cineastas dos próprios países representados e os métodos usados foram diversos: desde visitas às tribos até o resgate de gravações históricas – caso da língua extinta dos Selknam, que era falada em uma tribo da Patagônia argentina. Já no caso da língua Yagan, falada na Patagônia do Chile, a última fluente foi entrevistada pelo artista plástico Rainer Krause.

Resgatando línguas já extintas e outras bem perto da extinção, a exposição lembra o caso do explorador alemão Alexander von Humboldt. O naturalista tinha um papagaio que repetia palavras que ele descobriu serem de uma língua extinta no Caribe, o maipuré, que era falado por uma tribo que foi exterminada.

O desejo do curador é que a exposição desperte nos visitantes o interesse de aprender. “Espero que comecem a se interessar por algum idioma indígena. Todo mundo quer aprender inglês, alemão, espanhol. Mas guarani também é um idioma e poucas pessoas fazem esse tipo de esforço”.

Veja aqui o especial da Agência Brasil, publicado em dezembro de 2014, sobre as mais de 60 línguas indígenas que correm o risco de desaparecerem nos próximos 15 anos.

Serviço:

“O Papagaio de Humboldt”

De 3 de fevereiro a 29 de março | Níveis 2, 4 e 5 e Vitrais

Terça a domingo, 11h às 20h

Entrada franca | Classificação etária: livre

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