Vida Longa ao MST: 37 anos de Lutas

27/01/2021

MST

Fonte:https://mst.org.br/2021/01/27/vida-longa-ao-mst-37-anos-de-lutas/

“Um Movimento feito de gente, de povo, de vida, de sonhos, e de coragem”

 

Foto: Produção de alimentos agroecológicos dos assentamentos e acampamentos do MST-PR

Da Página do MST

Vem nascendo um povo errante, que segue a 37 anos descortinando a terra morta na mão daqueles que não sabem que o verdadeiro sentido da vida está no solo. Essa gente sonha, se transforma e se multiplica. Elas e eles com seus gritos fortes, mostram seu vigor e sua força. O canto, o encanto e a poesia fazem parte desse caminhar.

Foi pelas experiências de lutas na América Latina e no mundo, motivados e esperançados pelas histórias de resistência de outros povos e movimentos em defesa do uso democrático da terra, que o Brasil gesta sob as botas sangrentas da ditadura militar, a retomada da luta pela terra. Uma gestação atravessada por turbulências, insônias, gritos de dor e desesperanças até seu nascimento.

Em meio a efervescência da luta sindical dos colonos, e posteriormente com a ocupação do latifúndio, e em baixo do barraco de lona preta, nascia o MST. Em grandes ocupações organizavam suas moradas em baixo da lona preta, esta que ao relento do sol provoca calor quase insuportável, e na baixa temperatura provoca as gotinhas de orvalhos que molham seus trapos de dormir, ou de vestir. Um movimento feito de gente, de povo, de vida, de sonhos, e de coragem. Não teve tempo de ser criança, teve que aprender desde cedo a se cuidar e a cuidar dos outros. Teve que aprender a andar para se defender das feras insanas do capital que, amedrontadas, provocam horrores e pavores contra sua gente.

O MST se torna um bom lugar para se viver em comunidade, nele é possível encontrar um plano maior do que a luta pela terra; São milhões com unidade em torno de princípios e das tarefas políticas; Um movimento que é olheiro da formação política da militância cuidando e projetando seus quadros; A coluna vertebral está na busca de uma organicidade que possibilita a vivência da democracia; A solidariedade de classe e o internacionalismo, são parte constitutiva desta organização; a vivência da mística e o respeito aos símbolos (hino e bandeira); a autonomia política, são alicerces capazes de enfrentar os vendavais.

Em busca do que é justo e o que é de direito, eles e elas organizam seus alimentos, sua mochila com o pouco que resta, o seu pedaço de lona, e num caminhão seus sonhos e esperança se misturam com suas tralhas de acampados, e assim vão em busca de um pedaço de terra para poder viver. Naquelas carrocerias em que se ouvia somente o suspiro de cada um, se encontravam histórias em comum, vidas sofridas que aprenderam a ter fé, coragem e esperança. A possibilidade de se encontrar em torno de uma bandeira, e de saber que não estavam sós, foi dando corpo e identidade ao movimento das famílias sem a terra. Sabendo que pior que a dureza da luta, era a não luta!

Quando se encontram se reconhecem, derramam as palavras, as canções para espantar a dor, as orações para acalentar o coração e dizer que seus silêncios anteriores não eram mudez, eram a forma de suportar o fardo imposto pelos donos do poder. Nas fileiras que andaram juntos na caminhada pela vida, vão encontrando seus novos caminhos, suas danças, seus gritos, seus medos, suas escolas, seus sonhos, sua organicidade, suas necessidades e a busca da terra prometida. Vão sentindo mais de perto a fome absurda pela justiça social, sendo cada vez mais verdadeiramente terra que clama por liberdade, esta mesma liberdade que ofende os donos da propriedade e os lacaios das desigualdades.

O MST, vai se tornando o costureiro de sonhos e esperanças. Vão se bordando e se moldando com os valores humanistas e socialistas. São mais que palavras, são ações cotidianas de amor ao povo; é a capacidade de indignar-se; o espírito de rebeldia e de sacrifício; a solidariedade, entre outros. Valores que não são somente letras que se juntam a notas musicais. Elas estão vivas, pulsantes nos punhos cerrados, nas ações em cooperação, nas instâncias, nos espaços coletivos e formativos. O pertencimento a causa e o cuidado com os símbolos é a ponte que os une e os faz sementes de utopia.

O Movimento que inspira e conspira luta, cuida dos seus. Sempre soube verdadeiramente derramar o olhar para o que tem de mais belo, que são seus sujeitos no processo da luta: mulheres, homens, crianças, LGBTI+, jovens, idosos. Construiu um sujeito social coletivo. Forjou uma militância que carrega múltiplas dimensões da vida, dos valores, com um sentido humanista e emancipador. Como organização popular, foi sendo forjado algo novo, diríamos, uma organização de novo tipo: reúne elementos da teoria da organização com a festa, o lúdico, a mística, a celebração, a alegria, a música, a cultura, a arte, o encontro, e a fraternidade. Elementos que conformam uma característica peculiar na sua militância sobressaindo um ser social humanizado, preocupado com as questões sociais, políticas, econômicas e ambientais de nosso tempo. Sobressai uma consciência com horizonte alargado para os grandes temas, para as tarefas da organização da classe e seus instrumentos políticos.

A cada bandeira cravada em algum latifúndio, uma vitória, uma fenda escavada no chão. Chão que brota a semente que irá alimentar o povo. Em cada chão conquistado nascem belos jardins que vão dando cor e vida a correnteza que não irá se acomodar. Lutas que resultaram em conquistas econômicas, políticas, que forjaram a têmpera da militância e da base social. Na certeza de que só haverá mudanças se houver processos de lutas de massas. É uma nova força que garante a chegada de outros, mais outros, muitos outros e outras que ainda estão por vir.

As pedras encontradas no caminho, as armas assassinas do latifúndio e do estado impediram muitos de continuar o caminhar. Contudo, em cada canto deste país há uma esperança de se plantar e criar raiz. A cada conquista da luta o latifúndio troca de nome, as terras secas e sujas de bosta do gado improdutivo, dá lugar a raiz da planta que gera o pão. É decretado o fim do capim, que dará lugar ao alimento saudável, produzindo novas relações entre homem/homem, mulher/mulher e entre ambos e estes com a natureza.

Uma experiência duradoura, com objetivos claros e que transcendem a luta pela terra, o MST nesses 37 anos foi aprendendo a se renovar, e avançar junto com sua classe, se conformando e se transformando com o que já se aprendeu até aqui. Nascendo e renascendo a cada dia, a cada passo, a cada processo de formação realizado com os quadros forjados e temperados na luta de classes, militantes, que atuam junto a base social e nas ocupações, mobilizações e nas longas e expressivas marchas que seguem rumo a primavera que chega a cada ano.

Vida Longa ao MST!

*Editado por Fernanda Alcântara

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