Reportagem frequentou o local por diversos dias, conversou com morador e com pessoas que passam pela região

Fotos e montagem Rômulo Ávila/ Itatiaia

Viadutos do Complexo da Lagoinha viraram moradias para dezenas de pessoas

Porta de entrada para muitas pessoas que chegam a Belo Horizonte, especialmente pela Avenida Antônio Carlos, o Complexo da Lagoinha, na região Noroeste da capital, se transforma a cada dia em um ‘acampamento urbano’. A reportagem da Itatiaia esteve no local durante vários dias, conversou com moradores, pedestres, usuários de droga e identificou pelo menos 100 barracas e cabanas, chamadas por eles de ‘malocas’, sob os viadutos da região.  Ouça aqui a matéria completa com Rômulo Ávila!

Nesses locais vivem famílias, idosos e usuários de drogas, como explica o morador de uma ‘maloca’ que conversou com a reportagem com a condição de não ser identificado. “Todos os dias chegam pessoas diferentes aqui. Cada um com a situação familiar, com seu problema, mas aqui procuramos manter nossa convivência do viaduto com educação, honestidade e lealdade. A traição entre nós na rua é como se fosse uma pena de morte”, disse o homem que está no local há quatro anos. “A vida na rua é sobrevivência. Lidamos e convivemos com pessoas de várias situações, inclusive que cometem delito e coisas erradas”, diz o morador, de 50 anos.

Rômulo Ávila/Itatiaia

O homem diz ainda que muitos furtam para manter o vício, especialmente no crack. “Aqui é muito perigoso, porque tem pessoas que não medem os pensamentos para cometer qualquer tipo de situação perigosa”, disse o morador, que tem família em Belo Horizonte. “Vivo aqui para não levar meu vício da dependência química para o seio familiar”.

Durante a conversa com a reportagem, ele pediu o telefone emprestado e ligou para a mãe. “Posso almoçar com a senhora hoje, mãezinha? Faz um suco e um mexido pra mim”, disse ele, que teve resposta positiva da mãe. “Te amo, te amo, te amo”, declarou antes de concluir a ligação.

Rômulo Ávila/Itatiaia

 

Medo 

Quem precisa passar pela região descreve o cenário do Complexo da Lagoinha como sendo de terror. Além do uso constante de drogas e dos furtos, o mau cheiro e até a venda de produtos com origem duvidosa fazem parte da rotina.

“É um verdadeiro terror. Me sinto muito insegura, porque vejo muitos usuários de drogas, vendedores ambulantes clandestinos, é um lugar muito sujo e com mau cheiro. Me sinto constrangida em passar ali e ao mesmo tempo com medo. É um lugar abandonado”, diz uma usuária do metrô de BH que trabalha na região.

Cidade das malocas?

A situação do Complexo da Lagoinha não é isolada. Belo Horizonte está repleta de ‘malocas’ espalhadas em diferentes regiões. No bairro São Cristovão, na altura do Conjunto Iapi, as barracas estão em várias calçadas. Situação semelhante é vista por quem passa pela Trincheira Celso Mello de Azevedo, na avenida Bernardo de Vasconcelos, no bairro Cachoeirinha.

Já na região hospitalar da capital, a avenida Bernardo Monteiro também tem dezenas de ‘malocas’. No Centro de BH, cabanas e barracas são vistas especialmente na região da rodoviária. Há barracas até mesmo na calçada do Ministério Público de Minas Gerais, no bairro Santo Agostinho, região Centro-Sul.

Rômulo Ávila/Itatiaia

PBH

Procurada pela reportagem da Itatiaia, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou por meio de nota que está ‘implementando uma nova política de segurança preventiva comunitária na Lagoinha, com o objetivo de aumentar a sensação de segurança dos moradores, comerciantes e demais pessoas que circulam pela região’.

A PBH destaca ainda que implantou rondas em bicicletas, intensificou a circulação de guardas a pé nas imediações do viaduto e da passarela da Lagoinha e instalou um trailer da Guarda Municipal em frente ao Mercado da Lagoinha, na avenida Antônio Carlos.

Na área social, a prefeitura informa que o atendimento à população em situação de rua é intersetorial, realizado por diversas áreas do Executivo municipal, inclusive em parceria com as entidades e organizações da sociedade civil.

A nota cita também a instalação, em 2020, de uma nova unidade do Centro de Referência para População em Situação de Rua, o Centro Pop, na região da Lagoinha (rua Além Paraíba), a oferta de refeições por meio do Restaurante Popular, Serviço de Atendimento ao Migrante, o Consultório de Rua e o Serviço Especializado em Abordagem Social (SEAS) como ações ofertadas na área social.

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