Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia sobre a fala do Ministro Abraham Weintraub

23/05/2020

Fonte:https://www.etnobiologia.org/single-post/2020/05/24/Nota-de-Rep%C3%BAdio
A Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia (SBEE), repudia, perante a sociedade brasileira e internacional, a fala do Ministro de Estado da Educação do Brasil, Sr. Abraham Weintraub, que disse odiar o termo POVOS INDÍGENAS; e do Ministro de Estado de Meio Ambiente do Brasil, Sr. Ricardo Salles, que revelou sua intenção de se aproveitar do momento propício em que a imprensa brasileira estava concentrada na cobertura da pandemia da covid-19 para “deixar passar a boiada”, por ocasião da reunião ministerial ocorrida em 22 de abril de 2020 e revelada ao público em 22 de maio de 2020. Repudiamos veementemente estes posicionamentos.

A declaração do Ministro da Educação demonstra completa ignorância em relação ao verdadeiro significado do termo “POVOS” e desapreço pelos povos indígenas e povos ciganos que vivem no Brasil. O Brasil é um país megadiverso cultural e socialmente falando, o que deveria ser, em princípio, motivo de regozijo e respeito por parte do representante máximo da Educação e do Governo do qual faz parte; mas, pelo contrário, esse patrimônio é razão de ira e hostilidade. Recomendamos ao Ministro se deslocar a todos os cantos e confins do Brasil, de Norte a Sul, para conhecer a riqueza impregnada neste chão, em formas de rostos, línguas, religiões, cosmologias, modos de viver, pensamentos, histórias, sistemas políticos, relação de harmonia com a natureza e, principalmente, maneiras de resistir ao histórico projeto colonizador, que não se encerrou ainda, em pleno século XXI. Ou então, que estude a vastidão da literatura produzida por intelectuais e pesquisadores e pesquisadoras brasileiros/as e estrangeiros/as. Esse Ministro da Educação, que se apresenta como tal, não nos representa; pelo contrário, envergonha o BRASIL.
Por sua vez, o Sr. Ricardo Salles vem, desde que assumiu a pasta do meio ambiente, em 2019, colocando em curso seu desígnio para o patrimônio socioambiental brasileiro: SUA DESTRUIÇÃO. Para tal, age como “justiceiro” dos ruralistas, madeireiros, grileiros, garimpeiros e toda a sorte de gentes que sonham ver a porteira escancarada para saquear a madeira, o ouro e o doce impregnados nas reentrâncias desta pátria-mãe-gentil. Na verdade, presta um desserviço ao patrimônio ambiental nacional e, para tal, menospreza a ciência que alerta sobre os efeitos nocivos desse intento; humilha, desqualifica e
aparelha os órgãos ambientais brasileiros como o Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA); e usa de artifícios nada
republicanos, ético-morais e legais, para, de modo sorrateiro, afrouxar regras
ambientais para “deixar a boiada passar”. Segundo as ideias do Sr. Ricardo
Salles: “basta um parecer acolá e uma canetada aqui, sem precisar aprovação
da Câmara, que está um fuzuê”. O BRASIL e os brasileiros e brasileiras não
merecem tamanho infortúnio: um ministro do meio ambiente que age contra o
meio ambiente e um ministro da educação cuja ignorância e incivilidade são suas
maiores marcas. Somos pelos povos indígenas e todos os povos que
enriquecem a cultura brasileira. Somos pelo IBAMA, ICMBio. Somos pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Somos pela
Ciência. Somos pela defesa dos direitos humanos e da natureza. Somos pela
democracia. FORA RICARDO SALLES! FORA ABRAHAM WEINTRAUB!

Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia – SBEE

Belém, 23 de maio de 2020

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