Santo Antônio do Morro Grande

23/03/2010

 

SANTO ANTÔNIO DO MORRO GRANDE
 
LOCALIZAÇÃO
O município de Ressaquinha, onde se situa a comunidade quilombola de Santo Antônio do Morro Grande, está localizado na região do Campo das Vertentes, em Minas Gerais. A comunidade também conhecida como Quilombo, dista apenas 11,5km da sede do município.
A estrada de terra está em boas condições e, mesmo durante o período de chuvas, o acesso é relativamente fácil.
 
INFRAESTRUTURA
Segundo a moradora Rosanea de Fátima, há aproximadamente 50 famílias no quilombo, contabilizando de 200 a 250 moradores.
Os moradores afirmaram que quase todas as famílias possuem o título individual de posse de seus terrenos e que nunca houve conflito por terras no quilombo.
A água usada pelos moradores vem de nascentes no morro que circunda as casas do povoado. Ela é canalizada até as casas, mas não há qualquer tipo de tratamento.
Todos os domicílios usam a fossa rudimentar, e, como não há coleta de lixo pela prefeitura, ele é queimado perto das moradias. Há energia elétrica e telefone público na comunidade.
Os moradores alegam que a incidência de verminoses e de hepatite entre os moradores é muito grande. Há no quilombo um posto de saúde, que está funcionando na casa paroquial e recebe a visita de um médico semanalmente. Participa do Programa Saúde da Família, com agente de saúde da própria comunidade.
O hospital mais próximo está em Barbacena, a aproximadamente 25 km de Ressaquinha. Segundo os moradores, em casos de emergência, a prefeitura envia uma ambulância para transportar o doente. Há uma escola na comunidade que atende até a 4a série do ensino fundamental. Atualmente há 15 alunos e duas professoras. Os alunos que continuam os estudos vão para escolas na cidade de Ressaquinha, e há um ônibus da prefeitura para efetuar o translado.
 
GEOGRAFIA
A vegetação original está parcialmente alterada na região, mas ainda há alguns resquícios de Mata Atlântica. O solo é muito bom no entorno do local, e predomina o latossolo vermelho.
 
ECONOMIA LOCAL
As atividades pecuárias e o plantio de eucalipto são as principais causas da alteração ambiental do município. Ainda há muitas nascentes próximas às casas, mas já ameaçadas pelo desmatamento e pelo avanço da cultura do eucalipto.
A geração de renda vem de empregos fora da comunidade, nas cidades de Ressaquinha e Barbacena, com trabalhos nas fazendas e nas carvoarias vizinhas. Há também a venda de alguns produtos agrícolas para as cidades de Belo Horizonte, Juiz de Fora, Barbacena e Ressaquinha, entre outras. Muitas famílias cultivam morango, e em todas há uma horta para subsistência, além da criação de animais como aves, suínos e gado leiteiro.
Algumas mulheres da comunidade produzem artesanato de palha e crochê, mas como não há incentivo nem pontos de venda, essas atividades estão desacreditadas no momento.
 
HISTÓRIA
Ressaquinha está localizada no caminho das primeiras rotas dos bandeirantes paulistas que seguiam para o norte em busca de escravos e riquezas minerais. Sua primeira denominação foi Encruzilhada do Campo. Em 1787, surge a Fazenda Costa da Mina, ponto de paradas dos tropeiros. Em 1882, com a inauguração da estação ferroviária, a sede do distrito é transferida para São José da Ressaquinha, hoje somente Ressaquinha.
A história do quilombo de Santo Antônio do Morro Grande começou com a fuga de escravos das fazendas cafeeiras da região, no século XIX. Segundo os moradores, muitos habitantes antigos descendem de escravos fugidos e libertos da Fazenda do Bandeira e de outras próximas.
Segundo a moradora Rosanea de Fátima, sua bisavó, de nome Maria Rita, viveu no período escravagista. Rosanea conta que, no início da formação da vila, os negros viviam escondidos nas matas da encosta do morro. No fim da escravidão, as pessoas foram descendo o morro e construindo suas moradias nos locais onde está o casario atual.
É conhecida como Quilombo porque foi essa a primeira denominação do povoado, e até hoje as pessoas do entorno da comunidade e da cidade de Ressaquinha conhecem o local como Quilombo.
 
CULTURA
A tradição das benzedeiras, ainda forte, é praticada por seis mulheres. Santo Antônio é o padroeiro do quilombo, comemorado todo dia 13 de junho. A maioria dos moradores é católica, mas algumas pessoas são adeptas também de religiões de matriz africana.
Segundo os moradores, havia um terno de folia-de-reis, mas os jovens não deram continuidade à tradição; hoje o terno não existe mais. Segundo a moradora Rosanea, um grupo de dança afro foi organizado recentemente e está fazendo apresentações em escolas e outros espaços, no intuito de divulgar a cultura afro-brasileira. Existe uma associação em Santo Antônio do Morro Grande, denominada Associação dos Moradores do Povoado do Quilombo.
Grande parte dos moradores se reconhece como quilombolas, e, em 2007, a comunidade foi reconhecida pela Fundação Cultural Palmares. Existem algumas famílias que não são negras e vivem há pouco tempo no local. Elas não se engajam e até ignoram a luta e as reivindicações da comunidade como quilombola.
Os moradores se queixam de preconceito e racismo de uma grande parcela dos moradores da cidade para com os quilombolas.
 
Fonte: CEDEFES
 
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