Mato do Tição

23/03/2010

 

MATO DO TIÇÃO
 
LOCALIZAÇÃO
A comunidade quilombola de Mato do Tição – constituída por membros da família Siqueira – está situada a cerca de 4 km da sede do município de Jaboticatubas, na região Metropolitana Belo Horizonte. É também chamada Matição.
 
INFRA-ESTRUTURA
O sítio de Mato do Tição ocupa uma área de 3 hectares, incrustada entre serras. A parte habitada corresponde ao vale, cortado pelo córrego Chico Matias, onde vivem 28 famílias e cerca de 100 pessoas. A comunidade dispõe de energia elétrica e telefone público e é representada pela Associação dos Moradores do Mato do Tição.
 
HISTÓRIA
A origem do nome Mato do Tição, de acordo com algumas versões, se deve às tochas que os negros acendiam para se aquecerem do frio das noites e para iluminar o caminho durante a locomoção pelas trilhas locais. O tição aceso passou a ser a característica da região, e, ao se referirem ao local e a seus habitantes, as pessoas diziam: “lá no mato onde tem tição”, “lá no mato do tição”, “lá no matição”.
Segundo relato de Divina de Siqueira, no período escravista, os negros cativos viam-se obrigados a constantes mudanças, quando eram vendidos a senhores de regiões diferentes. Os ancestrais da família Siqueira – Constança, Pedro e Rita Basílio – foram transferidos para a posse do coronel Chico Alves, proprietário da Fazenda de Baixo, situada nas proximidades do atual sítio de Mato do Tição. Após a abolição, os ex-escravos receberam desse senhor as terras que passaram a habitar e onde promoveram a ampliação do núcleo familiar. A história de Mato do Tição – como a de tantos outros negros brasileiros – está enraizada na contradição que envolve o paternalismo e a opressão dos senhores que os subjugaram.
Os fazendeiros que hoje vivem no entorno chegaram na região há 50 anos e ocuparam terras que eram destinadas ao plantio de roças para o sustento da comunidade O direito de usucapião do que sobrou em nome dos Siqueira já foi reconhecido. Em 2006, a comunidade recebeu o certificado de reconhecimento quilombola. E, desde 2004, aguarda a titulação de seu território pelo Incra.
 
ECONOMIA LOCAL
A principal renda da população se origina do trabalho nas cidades próximas, mas muitos ainda plantam roças e hortas. A mata densa e os parcos terrenos obrigam os moradores, algumas vezes, à prática da queimada e derrubada de árvores para ampliação da área de plantio.
 
CULTURA
Podemos dizer que Mato do Tição concretizou a mistura de negros, índios e brancos, reduplicando, em espaço limitado, a aculturação experimentada em grande parte do território brasileiro.
De um lado, marcada pela presença de ancestrais indígenas e, de outro, pela corrente negra, a família Siqueira herdou também a cultura do branco. Ritos do antigo catolicismo ainda permanecem, como os vestígios do latim nos cantos que entoam. Essas heranças fazem do Mato do Tição “uma ilha sagrada nas cercanias do profano, um elo com o passado e a sacralização do mundo”.
Do período da escravidão ainda se mantém vivos os segredos do candombe, o movimento do corpo no batuque, a alegria e a melodia das cantigas de roda que animavam a vida nas senzalas e os cantos da negra Tança, usados na apanha da lenha e em outros momentos de trabalho. Mas, segundo os moradores, muito se perdeu como o cumbá, dança de enxadas praticada antigamente e que hoje já não é mais
lembrada.
Fonte: CEDEFES
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