Prefeitura de Contagem imuniza Comunidade dos Arturos nesta quinta-feira (1°/4)

02/04/2021

 

 

As equipes de imunização da Prefeitura de Contagem estiveram na Comunidade Quilombola de Arturos nesta quinta-feira (1°/4) para a vacinação de todos os moradores desse que é um dos patrimônios históricos e culturais mais importantes do município. A imunização da população quilombola é uma estratégia do Plano Nacional de Operacionalização de Vacinação contra a Covid-19.

A Comunidade de Arturos é retrato da identidade cultural e das tradições dos negros africanos, e garantir sua imunização  é reconhecer o impacto dos determinantes sociais de saúde nas condições de vida desta população. A redução das iniquidades é uma ação fundamental no enfrentamento à pandemia.

A quilombola Graciele Nayara Silva, que já foi contaminada pelo coronavírus, deu um depoimento forte sobre o que a ação representa para a comunidade. “Eu fui acometida pela Covid-19 há dois meses e  tive muito medo de morrer porque o sentimento que nós temos quando isso acontece dentro de uma comunidade quilombola é que a perda  de um quilombola é a perda de uma memória, é a perda de uma raiz, porque nós vivemos em comunidade, vivemos muito próximos um dos outros, então o sentimento foi de muito medo”, expressou ela. “E hoje poder estar vacinada dentro do quilombo é uma gratidão imensa que não cabe dentro. E reafirmar nosso compromisso de fortalecer, difundir, promover a nossa cultura, de trazer a importância que se tem de preservar as nossas raízes, as nossas tradições, as nossas festividades e tudo aquilo que está envolvido dentro do nosso sagrado, tudo que está envolvido dentro do nosso quilombo. Gratidão a todos os envolvidos que contribuíram para que hoje que essa vacina chegasse ao nosso quilombo e a mensagem que eu deixo é que hoje nós estamos sendo vacinados , mas a esperança é que a vacina venha para todos, porque vidas negras importam, vidas quilombolas importam e todas as vidas importam. Então, a nossa mensagem é que a vacina chegue para todos. E gratidão.”

Importante destacar que a imunização da comunidade reconhece o processo histórico de vulnerabilização desta população, quanto ao acesso às políticas públicas, em especial o acesso à saúde. Nesse sentido,  as comunidades quilombolas integram o escopo dos grupos prioritários definidos pela campanha de vacinação, considerando o modo de vida, os aspectos culturais, o modo de vida pautado na coletividade, as questões geográficas, e outras barreiras de acesso à saúde, que tornam essas populações mais suscetíveis à Covid-19.

Gratidão também é que sente outro quilombola imunizado, Éverton Eustáquio da Silva. “É um dia marcante, um marco para nossa comunidade. A palavra que eu tenho é gratidão, gratidão a Deus, a Nossa Senhora do Rosário, por este território, que veio de uma luta bem árdua, não foi fácil  e graças a Deus e graças também a Conaq, que é o conselho nacional que representa os quilombolas, que a gente conseguiu nesta data de hoje estar vacinando a nossa população, população que precisa, não só nós, o Brasil inteiro, o mundo inteiro precisa deste momento”.

O superintendente de Promoção da Igualdade Racial da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de Contagem,João Carlos Pio, ressalta a importância da imunização na comunidade quilombola. ‘’A vacinação contra a Covid 19 na Comunidade Quilombola dos Arturos é de fundamental importância para a garantia efetiva dos direitos humanos, da equidade no acesso à saúde e a proteção da vida de um povo que preserva as tradições e a memória viva da história do povo negro no município de Contagem”, afirmou.

Comunidade dos Arturos

A Comunidade de Arturos descende de Camilo Silvério da Silva que, em meados do século XIX, chegou ao Brasil num navio negreiro vindo de Angola. Do Rio de Janeiro, Camilo foi enviado a Minas Gerais para trabalhar num povoado situado na Mata do Macuco, antigo município de Santa Quitéria, hoje Esmeraldas. Neste povoado, trabalhou nas minas e como tropeiro nas lavouras. Casou-se com uma escrava alforriada chama Felismiba Rita Cândida. Dessa união nasceram seis filhos.

Entre os irmãos, Artur Camilo Silvério foi o que mais prosperou. Nasceu em 1885, época da Lei do Ventre Livre e casou-se com Carmelinda Maria da Silva. Os dois tiveram 10 filhos e vieram morar em Contagem, na localidade conhecida então conhecida como Domingos Pereira, onde adquiriram a propriedade na qual ainda vivem seus descendentes.  A comunidade está em sua sexta geração.

A comunidade oferece um retrato da identidade cultural e das tradições dos negros africanos trazidos para o Brasil no período escravagista, bem como da miscigenação com a cultura portuguesa, que deu origem a um sincretismo que ora se comemora isoladamente, ora em companhia das comunidades que vivem a seu redor.

Entre as celebrações dos Arturos, destacam-se o Batuque (reconhecido como forma de expressão artística pelo Ministério da Cultura, que nomeou Dona Conceição Natalícia como mestre no batuque), a festa da capina denominada “João do Mato”, a folia de Reis, a Festa da Abolição da Escravatura e, principalmente, o Reinaldo de Nossa Senhora do Rosário, festa popularmente conhecida como Congado. Eles também formam o grupo artístico Arturos Filhos de Zambi (deus dos negros da nação banto) que trabalha percussão, dança afro e teatro em torno da história dos negros.

Considerado um dos mais originais do Brasil, constitui grande e importante patrimônio histórico e cultural de Contagem. Em 2014, foi considerada Patrimônio Cultural Imaterial de Minas Gerais. A comunidade fica no Jardim Vera Cruz, em Contagem.

Repórter:  Isabela Melo

Fotografia: Jeanine Moraes

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