Novembro Negro

12/11/2010

Em sua quarta edição no próximo dia 20 de novembro, o projeto idealizado pelo Instituto Usina em 2005 para festejar a matriz africana, especificamente a comunidade de Mata Cavalo de Cima (siriri quilombola) e o Congo de Livramento, passa a ser executado pelo quilombola Sizenando do Carmo Santos, mais conhecido como mestre Nézinho. O projeto integra a agenda do MT Negro promovido pela Secretaria de Estado de Cultura.

Mestre Nézinho, por Wesley Aguiar

Mestre Nézinho, por Wesley Aguiar

As manifestações culturais brasileiras passam pela cultura trazida pelos africanos, por esse motivo o processo de construção e valorização da identidade negra é de extrema importância para o patrimônio histórico e cultural brasileiro. Com o intuito de promover a reflexão sobre a ocupação dos espaços pelo homem negro e a mulher negra na sociedade contemporânea e sobre as possibilidades de reversão do quadro de discriminação e exclusão desta população, uma série de atividades será desenvolvida no Quilombo de Mata Cavalo de Cima, localizado no município de Nossa Senhora do Livramento, situado a 50 km de Cuiabá.

A novidade desta edição é o lançamento da Casa de Memória do Quilombo Mata Cavalo de Cima Nhá Dita, que acontecerá no dia 20 de novembro, ponto culminante das atividades e apresentações. O espaço irá abrigar fotografias bem como objetos antigos que traduzem um pouco da história do povo que habita esse lugar. “A gente faz a festa para comemorar o homem velho que é Zumbi. Aqui no quilombo tudo é simples e verdadeiro, tem que saber entrar, pisar e sair. A gente quer trazer as pessoas para conhecer nossa cultura, nosso modo de viver e conviver. Mostrar a nossa raiz é uma alegria pra gente. A Casa de Memória vai ser muito importante para as pessoas que visitarem o quilombo para conhecerem um pouco da nossa história”, comenta mestre Nézinho.

Segundo a historiadora e coordenadora do Ponto de Cultura Porto das Artes (IPHAN), Lúcia Picanço, o diferencial dessa ação é que a festa e as ações são discutidas com o Mestre Nézinho. “É ele quem decide, é ele quem sabe o que vai fazer no seu quintal. Nós somos colaboradores. E temos muito que aprender. O povo africano ou seus descendentes são portadores de conhecimentos milenares”, afirma. Ainda de acordo com Picanço, toda a contextualização do projeto gira em torno da matriz africana. O intuito dessa ação é estimular e contribuir para a conservação da cultura de raiz tão encolhida ao processo historicamente discriminatório.

Uma série de atividades está prevista para serem realizadas em novembro. A abertura da programação no dia 20 será marcada pelo som do atabaque. Haverá também oficinas de penteado afro, em parceria com o Grupo Tibanaré, que visa valorizar e elevar a auto-estima das pessoas daquela comunidade e oferecer uma atividade que futuramente pode gerar renda. Haverá também oficina de percussão, ministrada pelas acadêmicas de música Estela Ceregatti e Juliane Grisólia, ambas do grupo Urutau. Além disso, também haverá oficina de fotografia, fruto da parceria com o Coletivo Meus Amigos Imaginários e apresentações como capoeira com o grupo Consciência Brasil, formado por alunos do ponto de cultura Porto das Artes, o maracatu com o grupo Batuquenauá, o Congo de Livramento e grupos Cururu e Siriri. A gastronomia ficará por conta do mestre Nézinho, que fará uma feijoada para a comunidade e os visitantes nesse dia.

Segundo a coordenadora do Pontão da Viola de Cocho, parceiro do Novembro Negro, Terezinha da Silva, a falta de conhecimento leva as novas gerações a não perpetuar suas tradições, por isso ações desse tipo são importantes para esclarecer aos jovens a importância e beleza de suas raízes, de suas danças, cantos e tradições, que fazem parte do universo cultural do estado e país.

Conforme o secretário de Estado de Cultura, Oscemário Daltro, o MT Negro visa propiciar um grande encontro de grupos, artistas, movimentos e entidades, que tem unido seus elementos para mostrar seus valores culturais e discutir a participação do afro descendente na comunidade. “O projeto pretende contemplar a multiplicidade de culturas em Mato Grosso, pois a cultura negra não é uma coisa única, ela é lembrada em diversas manifestações como parte da grande contribuição dos negros para a cultura nacional”, explica.

Sobre o quilombo de Mata Cavalo de Cima – a comunidade negra rural Mata Cavalo encontra-se localizada, no Estado de Mato Grosso, às margens da BR-MT 060, no município de Nossa Senhora do Livramento, situada a 50 quilômetros da capital, Cuiabá. Mata Cavalo ocupa um espaço geográfico de 11.722 hectares dividido e organizado em seis associações, quais sejam: Mata-cavalo de cima, Ponte da estiva (fazenda Ourinhos), Ventura, Capim Verde, Mutuca e Mata-cavalo de baixo. Essas seis associações formam o complexo Quilombo Boa Vida Mata Cavalo, no qual residem cerca de 420 famílias.

A sesmaria de Mata Cavalo de Cima foi constituída de negros africanos e afro-descendentes escravos no início do século 19, que foram trazidos para trabalhar com mineração em municípios próximos (Poconé e Livramento). Em 1883 eles receberam a doação das terras onde vivem da senhora Ana da Silva Tavares.

Os quilombolas vivem do plantio da mandioca, banana, coco de babaçu, do arroz e da cana. A energia elétrica chegou há apenas um ano. E a água ainda não foi encanada. Mais de 50% da população é analfabeta. As crianças e jovens andam quilômetros para chegar até a escola. O índice de gravidez na adolescência é a alto. Entretanto, aos poucos, a comunidade rural de Mata Cavalo de Cima vem provando a possibilidade de transformação cidadã através do reconhecimento de sua cultura. Exemplo disso é o grupo de Siriri do quilombo e a transformação de seus produtos artesanalmente para agregar valor fazendo doces, rapaduras e azeites de babaçu e mamona.

SERVIÇO:

O que: Novembro Negro
Quando:
20 de novembro de 2010, a partir das 9h

Local: quilombo Mata Cavalo de Cima, no município de Nossa Senhora do Livramento, situado a 50 km de Cuiabá/MT
Sítio Dois Irmãos, na casa do mestre Nézinho

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