Nota de repúdio contra a fábrica da Heineken no sítio arqueológico de Luzia*

19/10/2021

UNEGRO MG

A UNEGRO-Minas Gerais torna pública essa nota de repúdio e constrangimento por mais um descaso com a ciência e as fontes históricas brasileiras, uma vez que o licenciamento ambiental da fábrica da Heineken, em Minas Gerais, representa a implantação de um megaempreendimento num dos locais mais icônicos para o povo mineiro. Trata-se da região onde foi descoberta em 1975 o crânio de “Luzia”, não só considerado o esqueleto humano mais antigo já descoberto no Continente Americano, mas a matriarca de Minas Gerais que viveu na região há pelo menos 13 mil anos. Além do que, a região é uma Área de Proteção Ambiental Federal, denominada Carste de Lagoa Santa. Lá, também, é um ponto de riqueza geológica e ambiental com sítios arqueológicos considerados de altíssima relevância para o Brasil, reconhecidos internacionalmente desde o século XIX, quando as explorações de Peter Lund revelaram a incidência de fósseis humanos no local.

A preocupação da UNEGRO-MG está baseada em Nota Técnica do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio-MG), que apontou erros no licenciamento ambiental do empreendimento, pois os estudos ambientais apresentados não teriam dimensionado os danos ambientais que poderiam prejudicar tanto o patrimônio espeleológico quanto arqueológico do local onde se pretende construir a fábrica da Heineken. Vale recordar que o crânio de Luzia escapou por pouco da destruição total durante incêndio criminoso no Museu Nacional em 2018, que tentou apagar a memória e a contribuição negra do Brasil, entre outras coisas.

Assim, a UNEGRO-MG reivindica a suspensão da licença concedida e faz um apelo pelo respeito à história, à ciência e ao que ainda resta de patrimônio de matriz africana em nossas terras brasileiras.

Belo Horizonte, 19 de outubro de 2021.
UNEGRO- União de Negras e Negros Pela Igualdade – Minas Gerais.

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