Com muito pesar, vimos nos solidarizar com familiares e amigos de Marcelo Zelic em razão de seu falecimento. Marcelo Zelic teve longa trajetória na defesa dos Direitos Humanos. Foi vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais e responsável pela localização de um importantíssimo documento, que revelou graves violações de direitos indígenas por parte do Serviço de Proteção ao Índio (SPI): o Relatório Figueiredo. Com isso, contribuiu para a inclusão do estudo das graves violações de direitos humanos contra os povos indígenas na Comissão Nacional da Verdade, com intensa participação em seus trabalhos. Criou o projeto Armazém da Memória e, como coordenador, militou ativamente pelo amplo acesso ao acervo documental que o compõem, com vistas a subsidiar ações que permitissem o reconhecimento de graves violações de direitos indígenas e as devidas medidas de reparação. Marcelo Zelic deixa um importante legado para as lutas por Memória, Verdade, Justiça e Reparação, que não será esquecido.

Compartilhamos abaixo mensagem de Helena, filha de Marcelo Zelic:

“oi, pessoal. aqui é a helena, filha do marcelo zelic. minha família me pediu para escrever para vocês com as notícias.

tentamos tudo, ele também tentou muito, resistiu daquele jeito que todos já conhecemos, mas não conseguimos. papai se encantou hoje, dia 8 de maio, no começo da tarde. passamos os últimos dias o abraçando, relembrando as melhores e mais engraçadas histórias, dando coragem e conforto para ele. ainda estamos organizando os trâmites para a despedida, que provavelmente será amanhã, terça-feira, aqui em são paulo. estivemos torcendo por ele com toda nossa força nos últimos dias.

agora é hora de seguirmos pensando nele, e não só lembrando as histórias, mas também assumindo o compromisso de sermos mais como ele: justos, generosos, teimosos, rebeldes, carinhosos, comprometidos com a luta dos povos.

é hora de mantermos a memória dele viva, assim como ele, com o armazém memória, mantinha viva uma parte muito importante da memória do brasil.

ele trabalhou de domingo a domingo para colocar no ar centenas de milhares de documentos que pertencem à história dos nossos povos. achou arquivos que ninguém antes tinha visto, e com isso fez transformações importantes na nossa democracia. lutou e enfiou muitos dedos na ferida para que se fizesse justiça, reparação e não-repetição. se rodeou de muita gente, entre indígenas e não-indígenas, todos lutadores. fez amigos em todo o brasil.

mexia com coisa séria sempre com um sorriso no rosto, uma piada besta prontinha na ponta da língua. cuidava de todos nós que estávamos por perto, sempre disposto a dar uma carona ou a tomar um lanchinho falando igual uma matraca. cuidava da casa com apreço e gentileza: fazia a comida das cachorras, dormia com elas, varria o quintal, lavava a louça de todo mundo, porque gostava de fazer, porque dizia que pensava melhor enquanto fazia.

ele estava pensando muito, estava feliz demais, na crista da onda. viagens, reuniões, vitórias, portas se abrindo. vamos continuar por ele. sentindo muita saudade, mas também um orgulho que nem cabe na nossa mão. obrigada a todos por tantas boas energias e por toda a companhia, presencial e virtual. sejamos, agora, todos nós um pouco marcelo zelic. ✨

um beijo,
helena
com paula, julio, laura, marcia e mari”

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Compartilhamos abaixo fotos de um encontro muito feliz com Marcelo Zelic, em 26/10/2022, na sede do Cedefes, em BH, onde conversamos sobre a importância da memória e da documentação na efetivação dos direitos indígenas. Na ocasião, planejamos toda a logística para a digitalização do acervo indígena do Cedefes e a sua inserção no Armazém Memória para que, somados a outros documentos, possa ser testemunha das atrocidades da ditadura aos povos indígenas.