Horta comunitária do Sapucaias transforma vidas de mulheres

18/01/2023

“Eu amo a terra”. Essa é a fala de Vera Lúcia, uma das 16 mulheres que cuida da Unidade Produtiva Comunitária do Sapucaias, localizada ao lado da Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro.

O sistema produtivo é conduzido majoritariamente por mulheres que residem no bairro Sapucaias I e II, Nascentes Imperiais e São Luís. O início do projeto foi em maio 2022, com o credenciamento das agricultoras, a elaboração coletiva do regimento interno e realizações de capacitações agroecológicas. Logo em seguida, para iniciar a parte prática, a Prefeitura limpou o terreno e as agricultoras começaram o plantio.

Neste mês de janeiro, a unidade está recebendo material fornecido pelo Centro Municipal de Agricultura Urbana e Familiar – Cmauf para construção de uma área de convivência que será erguida a partir de mutirões. O espaço será destinado a cursos, reuniões e será o futuro ponto de comercialização da produção do espaço.

O local tem aproximadamente 3 mil metros quadrados, e já conta com dezenas de canteiros, entre individuais e coletivos. O terreno é de propriedade da Prefeitura de Contagem e sua utilização é para fins de exploração agrícola. A unidade produtiva conta com uma área de produção coletiva e canteiros.

No local também está sendo desenvolvido um Sistema Agroflorestal (SAF), área de produção de plantas medicinais, flores e ornamentais e unidade de compostagem. Atualmente, a água utilizada para os plantios é cedida pela UBS Sapucaias.

A ação é promovida pela Secretaria de Desenvolvimento Social, Trabalho e Segurança Alimentar, por meio do Programa Municipal de Agricultura Urbana e Familiar. De acordo com a diretora da Agricultura Urbana e Familiar, Bruna Barbosa, acompanhar e apoiar o desenvolvimento da unidade produtiva Sapucaias tem sido muito interessante.

“A auto-organização do grupo e a vontade de aprender são características que se destacam nesse coletivo. Mesmo a maioria das mulheres tendo pouca experiência com a agricultura, procuram estudar, aproveitam o máximo quando a equipe do Programa Municipal de Agricultura Urbana e Familiar está na unidade, buscam novas parcerias para auxiliar na viabilização dos objetivos e são comprometidas em desenvolver o trabalho alinhadas com o território”, informou a diretora Bruna.

O grupo de mulheres é autônomo em sua organização, e surgiu a partir do término do projeto Mulheres da Paz. São integrantes de famílias que estão expostas a algum tipo de vulnerabilidade social e que têm algum envolvimento com o território. Um sábado por mês, todo o grupo se reúne para o mutirão de limpeza.

Uma das integrantes, Rejane Rocha dos Santos Nascimento, conta como foi o início da Unidade Produtiva. “Começamos o contato com a Secretaria de Desenvolvimento Social. A partir daí, a Prefeitura e o grupo de mulheres se reuniram para iniciar o projeto. Depois de alguns encontros, fizemos os cursos, palestras e construímos o regimento em conjunto. Temos um mutirão mensal para limpeza e sempre estamos aprimorando para que a horta cresça e seja uma opção de geração de renda. Quando temos alguma dificuldade, nós apresentamos ao Cmauf e solicitamos ajuda”, contou.

Um dos objetivos do Cmauf é capacitar e apoiar os indivíduos com técnicas para aplicarem nas unidades produtivas e replicarem entre os envolvidos, sempre utilizando como base a agroecologia. Além de garantir o acesso a um alimento saudável, promovendo assim a segurança alimentar e nutricional, ainda há a possibilidade de comercializarem o excedente da produção, gerando renda para todos envolvidos no processo.

A unidade é acompanhada pela equipe técnica do Cmauf, que atende o local semanalmente. Segundo o gerente do Cmauf, Rodrigo Costa Leal, todas as mulheres começaram do zero e demonstram muito interesse em aprender. “Elas não eram agricultoras, a maioria veio sem experiência nenhuma. Em pouco tempo, aprenderam muito. Vamos ao local para ensinar, e não para fazer o trabalho. A nossa política é de orientação no processo da plantação e colheita. Realizamos os cursos de acordo com a necessidade da unidade, ou por solicitação do grupo”,explicou.

A atividade na unidade produtiva estimula o consumo de alimentos saudáveis, possibilita a ressignificação de espaços nos territórios, promove a sociabilidade, identidade cultural, integração social, bem viver, terapia ocupacional, além de incitar, quando possível, uma produção para geração de trabalho e renda.

“Se deixar, venho todos os dias, pois a horta para mim é uma terapia”, disse Conceição Abdon, 61anos. “Eu e minha filha temos um canteiro e já colhemos couve, tomate, quiabo, entre outros. É uma sensação muito boa ver todo o processo do que plantamos. Ficamos contemplando a grandeza de Deus, pois a gente planta, mas quem dá crescimento é Ele. Estou me sentindo muito bem depois que iniciamos a horta, todo mundo nota como minha saúde melhorou. É ótimo saber que estamos colhendo o que plantamos. Então, traz uma paz e uma enorme gratidão”, completou.

Todas as participantes podem levar familiares para ajudar no manejo diário da produção e comercialização, desde que respeitem os demais agricultores e sistemas produtivos. “As crianças também vêm e reservamos até um canteiro para eles”, declarou Elivani XX, 41 anos. A agricultora mora no prédio ao lado do lote, e vai a horta três vezes na semana e sempre leva a neta de 4 anos. “Minha vida mudou muito desde que comecei a participar. Da minha janela dá para ver o lote e eu sempre ficava vendo o espaço sujo, com lixo e muito mato. Com isso, sempre tinha insetos na minha casa. Depois que começamos a cuidar, até isso melhorou, pois não aparece mais bichos lá em casa”, celebrou.

Formada em fitoterapia, Vera Lúcia, 49, alega que, com o curso, ficou ainda mais interessada em participar da ação. “Já tenho uma base como plantar, cuidar e colher, pois aprendi muito no curso de plantas medicinais. Vejo que posso ensinar algo e também aprendo muito. Minha vida está muito melhor desde que entrei para o grupo, pois esse contato com a natureza me faz muito bem”.

Cmauf

É um Centro de capacitação, experimentação e disseminação de tecnologias sociais agroecológicas. Inaugurado em 2010, desenvolve ações de fomento à produção, à comercialização de alimentos, por meio da implantação de sistemas produtivos agroecológicos e da comercialização direta dos produtos, em consonância com as Políticas Nacional e Estadual de Agricultura Urbana Periurbana e Familiar.

O Cmauf fomenta essas ações por meio de: assistência técnica e acompanhamento das Unidades Produtivas (hortas, unidades de compostagem, agroflorestais, etc.), realiza capacitação continuada em agroecologia, viabiliza produção, trocas de mudas e conhecimentos, além de apoiar agricultores/as nas ações de comercialização direta de alimentos para a população. O Centro fica na rua Fernando Ferrari, 85, no bairro Praia.

Clique aqui e confira a galeria de fotos

Foto: Janine Moraes/PMC
Foto pequena 2 0
Foto pequena 2 1
Foto pequena 2 2
Print Friendly, PDF & Email