Depoimento de Thiago Amador sobre o processo de ocupação de território pelo povo Kamakã Mongoió

04/12/2021

Thiago Amador

Os Kamakã Mongoió ocuparam um território que segundo uma pesquisa feita no Sicar, Sistema de Cadastro Rural, não há proprietário, ou seja pertence ao município de Brumadinho. Neste território está a Cachoeira Córrego de Areia, uma das poucas que se tem acesso público, sem precisar violar território da mineradora Vale e por isso recebe visitas constantemente. De um lado do rio tem algumas placas velhas da prefeitura, mas nenhuma estrutura pra receber visitantes, o local fica mal cuidado com lixo deixado por pessoas desrespeitosas.

A ocupação, no processo de retomada, começou do outro lado do rio. A Secretaria do meio ambiente de Brumadinho foi até ao local com 3 técnicos para saber da situação e dar encaminhamento nos trâmites governamentais, de apoio junto a assistência social.

Notificaram os indígenas pedindo que saíssem dali, pois o local, para nossa surpresa, pertenceria a uma imobiliária.

Surpresos os Kamakã se deslocaram do lugar e foram para um local bem próximo, que segundo os vizinhos o terreno foi comprado pela Vale, ontem a Vale foi com seguranças e a polícia registrar o B.O de invasão.

Os Kamakãs tem recebido muito apoio e visitas amigáveis, inclusive da polícia ambiental.

Consegui contato com o Subsecretário do meio ambiente e o mesmo se mostrou consciente e favorável à acolher os indígenas buscando na estrutura governamental um processo de alocação dos indígenas de forma legal, temendo apenas que ao acolher os Kamakãs muitos outros viriam querendo território também, o mesmo confirmou a questão do terreno privado, dizendo que a imobiliária solicitou á secretaria de planejamento que agisse para reintegração de posse. Eu informei ao secretário da questão do Cadastro Rural e enviei a pesquisa feita no Sicar que comprova que o terreno é público, o mesmo disse que a secretaria do meio ambiente é responsável apenas pelas áreas de proteção ambiental e que essa pesquisa servirá para questionar a propriedade do terreno em questão.

O Subsecretário do meio ambiente, não fez mais contato.

Os Kamakãs estão nessa encruzilhada, um terreno que atravessa interesses da mineração, de especulação imobiliária e de interesse público, pois o que se sabe, informações da brigada de incêndio, é que no local seria feito um parque ecológico por causa da cachoeira.

O Merong, liderança dos Kamakã Mongoió abriu para uma contrução conjunta de ocupação do território prezando pela cultura Kamakã de plantar, cuidar e viver da Terra, explicitando não ter interesses comerciais e sim do modo de vida deles, de intimidade com a natureza.

Merongue, sua mãe Katorã e a sobrinha Kenawara, são a frente que resiste na luta pelo território, espera-se que a situação fique mais apropriada para receber os demais parentes e fortalecer a luta.

A Jornalista Kenia esta ajudando na articulação e por orientação da assessora do procurador federal – indicado pelo André Sperling foi feita uma representação no MP, por telefone a assessora foi super atenciosa e disposta e pediu para formalizar o pedido, estão articulando.

Vários apoios têm chegado, os contatos tem sido amigáveis, respeitosos e estamos tendo um caminho rumo a reconciliação (minha percepção; minha fé e os acontecimentos tem demonstrado a ação do Grande Espírito nesse sentido). Brumadinho se reconciliou com a Mineração e tem a oportunidade de se reconciliar com os povos originários e com o meio ambiente também, através dos Kamakãs.

A chance de dar sua contribuição para um estado e um país irem no caminho ao respeito á vida.

Esse texto é uma percepção minha, Thiago. Não representa a fala dos indígenas. Estou apoiando a luta desde o início.

Eles precisam de assessoria jurídica para não serem despejados e querem um diálogo para permanecer no local

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