12/05/2011
Um conjunto de fotos e uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, de autor anônimo, originada em Goa, Índia, no início do século XVIII do Museu Mineiro são recebidos pela Rainha Isabel Cassimiro das Dores e pela sua Guarda de Moçambique e ficarão expostos na capela. No altar, a pequena e delicada imagem de Nossa Senhora da Conceição juntar-se-á às outras imagens dos santos de devoção da Guarda de Moçambique Treze de Maio e retornará à sua origem, ao rito a que foi destinada antes de tornar-se objeto exposto em um museu.
A escolha da imagem é uma reverência à primeira mãe e, por ela, à força de três mulheres, avó, mãe e filha: Conceição Moreira de Jesus, mãe de Maria Casimira das Dores, fundadora e primeira Rainha da Guarda de Moçambique Treze de Maio, mãe da Rainha Isabel Cassimiro das Dores Gasparino, do segundo reinado. Fundada em 1944, a Guarda de Moçambique Treze de Maio completa 67 anos. Foi, corajosamente, a primeira Guarda de Moçambique criada por uma mulher. Ao homenagear a avó, aproximamo-nos de uma memória anterior, a da própria formação da Guarda. E, mais além, uma memória na qual estão contidos todos os gestos, todos os fazeres, todos os cantos, todas as danças que foram e, pelos filhos e filhas e netos e netas da Rainha Isabel, ainda serão realizados. É também uma homenagem ao desejo – vontade humana e fundadora do Ser. A vontade que foi o lastro para os negros escravos que antes da Libertação e que ainda hoje constroem, dia a dia, na preservação das práticas de sua cultura, a sua própria Libertação.
Cria-se assim um desenho do qual emergem as raízes e o sentido da memória: a busca da origem. Indo além, sobre esse desenho, o entendimento de que as origens são raízes que se prendem a outras raízes e, assim, nessa rede viva, forma-se toda cultura, desenha-se a genealogia que constitui uma nação – um povo.
A representação de Nossa Senhora da Conceição, delicado objeto feito pelas mãos do artista, é agora uma joia de arte preservada pelo museu. Pequena “ruína” da história, com seus quase trezentos anos de existência, não traz mais a peanha, a base que a sustenta. Essa se perdeu. Perdeu-se junto, talvez, o globo azul, e nele a representação da esfera celeste e a imagem da lua em sua fase de crescente. Assim, a imagem ficou destituída do seu principal atributo, o símbolo do feminino e da fertilidade, que tornaria explícito o seu título de Conceição. Perderam-se a matéria e a forma estética… Mas, apartado do objeto, o símbolo persiste. Se, durante as noites da Festa da Libertação da Guarda de Moçambique Treze de Maio, voltarmos nossos olhos para o zênite, veremos ali entre a terra e o reinado do céu, a lua e, nela, o fino fio de luz do crescente anuncia a Concepção.
SUMAV – MUSEU MINEIRO