A comunidade de Ribanceiras se localiza em São Romão, região norte do Estado de Minas Gerais. O quilombo se localiza a aproximadamente quatorze quilômetros ao sul da sede, às margens do Rio São Francisco.
O nome da comunidade, segundo o morador José Francisco, é porque havia um antigo morador chamado Antônio Ribanceira. Outros moradores já colocam que o nome é em decorrência da localização da comunidade, que fica nos barrancos do Rio São Francisco. Moram atualmente em Ribanceiras cerca de cem famílias.
A comunidade possui energia elétrica, telefone público e uma escola que atende o ensino fundamental e o programa de alfabetização de jovens e adultos do Estado de Minas Gerais denominado “Cidadão Nota 10”. O analfabetismo é muito alto entre os adultos e idosos.
Não há posto de saúde e nem profissionais da área que atendam os moradores. Quando há alguma urgência médica, é preciso pagar algum morador que tenha veículo, são poucos, para transportar o doente até São Romão. Um enfermeiro da prefeitura visita a comunidade de vez em quando. O único transporte que existe é o ônibus da prefeitura que atende os estudantes nas escolas da sede. Não há saneamento básico em Ribanceira, há apenas fossas.
Existe uma grande erosão na comunidade que avança a cada dia. Esta erosão, segundo relatos dos moradores e de outras pessoas de São Romão que conhecem a comunidade, se iniciou a mais ou menos quinze anos. A erosão já derrubou algumas casas e está se aproximando de outras. Como não existe coleta de lixo no local, as famílias de Ribanceiras jogam o lixo que não é queimado dentro da ravina formada pela erosão. Quando chove, todo o lixo é escoado para o Rio São Francisco.
A economia das famílias giram em torno da pesca, de pequenos roçados, trabalhos de diária nas fazendas vizinhas, em carvoarias e principalmente do programa governamental do Bolsa Família e das aposentadorias. A pesca é a atividade tradicional das famílias de Ribanceiras.
Segundo o relato dos moradores, a grande maioria da população é católica. Há a igreja católica de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do local. Há uma pequena parcela da população que professam o cristianismo protestante. Existem duas igrejas protestante, a igreja da Congregação de Deus e a igreja da Assembléia de Deus.
Segundo o relato dos moradores mais velhos, as famílias de Ribanceiras vieram, em sua grande parte, da ilha da martinha, que se localiza no Rio São Francisco em frente a comunidade. Segundo relatos de João de Deus e José Francisco, os primeiros moradores da Ilha provavelmente ocuparam a ilha no final do século XIX.
A ilha teve que ser abondonada em 1979, quando houve uma grande cheia do Rio. Estes ocuparam a fazenda Bonfim, onde havia um pequeno grupo de moradores. Assim, se formou a comunidade negra de Ribanceiras. Outros moradores oriundos de localidades da outra margem, a margem direita do rio, também migraram para o local. Estas localidades se denominam Ubaí e Bentópolis de Minas atualmente.
A prefeitura adquiriu este pequeno terreno para a comunidade, que não passa de dois alqueres, terra insuficiente para a sustentabilidade econômica e simbólica do quilombo. Nenhuma família possui documentação referente ao título da terra. Já houve ameaça de fazendeiros com moradores que fizeram pequenas plantações no espaço das fazendas. O entorno da comunidade é cercado de fazendas que produzem carvão e criam gado de corte, o que acarreta em um desmate do cerrado e no trabalho escravo, inclusive pelos quilombolas.
A grande maioria das famílias mantém as roças na Ilha da Martinha. A produção é para subsistência e gira em torno do milho, abóbora, feijão, mandioca, entre outras culturas. A comunidade produz beiju e biscoito de goma. Há uma fabriqueta de farinha sendo construída pela EMATER. Na ilha existe um engenho e vários ranchos para acolher os trabalhadores.
Existe uma associação de moradores de Ribanceiras e vários moradores que atuam com pesca são associados na associação de pesca de São Romão. Existe uma pousada e um rancho sendo construído para atender pescadores amadores que frequentam o local em período de pesca. Quem gera estes locais são pessoas de fora.
Os moradores festejam a padroeira Nossa Senhora de Aparecida todo o dia 12 de outubro. Nesta data acontece um grande festejo. Os moradores festejam também os reis Magos no início de janeiro. Todo ano a Folia de reis percorre as casas tocando e cantando as músicas e desafios da Folia. No dia seis de agosto tem uma festa menor, a festa de Bom Jesus.
Segundo a moradora Alexandrina Pereira Santos, as festas de antigamente eram muito mais animadas e os moradores dançavam o batuque durante os festejos. Hoje, segundo ela, as músicas modernas tomaram conta e não é tão animado quanto era antigamente. Segundo Alexandrina, rezava-se a ladainha e havia mais disposição para os festejos.
Alexandrina lembra de alguns versos antigos que não se canta mais na comunidade “…quem jurou deu na candeia…”
Os moradores relataram algumas histórias sobre o caboclo d`água, entidade mística do São Francisco que se transfigura em objetos, em rio, em peixe e em outras criaturas. Segundo o morador João de Deus, ele é negro com os braços grossos.
A comunidade ainda mantém a tradição da benzeção e das raizeiras. Há também uma parteira. Antigamente “fazia o quarto” quando falecia algum morador, velava o morto com cantorias e rezas.
A comunidade ainda está no processo de entendimento de sua condição étnica diferenciada como Quilombola e iniciou recentemente esta discussão. Ribanceira ainda não tem o conhecimento de seus direitos como quilombola, muito menos como fazer para acessa-los. É preciso um trabalho de base para que esta consciência seja formada e a comunidade possa conquistar sua cidadania e seus direitos constitucionais.