Celebra-se hoje o Dia Internacional dos Arquivos. A data foi instituída em 2007 pelo Conselho Internacional de Arquivos criado pela Unesco a 9 de Junho de 1941.
O Correio dos Açores conversou com a chefe de Divisão de Arquivo Regional de Ponta Delgada para perceber a importância actual dos arquivos para a sociedade. Ana Cristina Moscatel começa por destacar o simbolismo da data, que “serve para lembrar à comunidade em geral a importância dos arquivos para a preservação da informação e da nossa memória colectiva”. Para esta profissional, “os arquivos são uma fonte de informação necessária e imprescindível ao nosso dia, sejam eles em papel, registo sonoro, digital ou outra forma. Estes registos contêm informação que é necessária ao nosso dia a dia e que depois, preservados, vão ser a nossa memória colectiva no futuro”.
Ana Cristina Moscatel refuta a ideia de que os arquivos são “papéis velhos” e realça que estes não “são apenas memória”.
“Os arquivos são olhados como aqueles papéis velhos que já não são precisos e que podem ir para o lixo, mas vão muito mais além disso. As pessoas esquecem-se de que o nosso dia-a-dia gera arquivo em qualquer coisa. Por exemplo, o simples acto de preencher o IRS ou guardar facturas, tudo isso é o nosso arquivo e esses sistemas que gerem a nossa vida também contêm arquivo e informação. Não são apenas memória, mas sobretudo informação”, afirma.
A chefe de Divisão do Arquivo Regional de Ponta Delgada explica que “o grande problema dos arquivos actualmente não é, por incrível que pareça, o pergaminho ou papel antigo, mas os ficheiros digitais. São gerados milhares deles por dia e o digital tem um problema que o papel não tem, fica obsoleto (…) Com papel isso não acontece. Está escrito, está escrito!”.
Ana Cristina Moscatel considera que nos Açores “até estamos muito avançados do ponto de vista legal e temos diplomas que enquadram a actividade no regime arquivístico da Região. Nesse sentido até estamos bastante evoluídos, mas só as leis não bastam”, alerta .
“Falta um pouco a consciencialização da comunidade e do cidadão comum em relação à importância dos arquivos. Os arquivos exigem investimento, estão dentro da área da cultura, e o cidadão comum não percebe porque é que se gasta dinheiro em arquivos se não tiver a consciência de que os arquivos são património. Penso que é esse trabalho que falta fazer”, refere, antes de exemplificar os gastos associados a este tipo de actividade.
“Para manter estes arquivos são necessários técnicos e recursos humanos com formação. É também necessário investimento nos materiais porque para acondicionar documentação de arquivo não é em qualquer caixa e tem de haver investimento na conservação e restauro e investimento no software. Temos uma base de dados e todo o trabalho técnico que é feito reflecte-se nessa base de dados que está online e que é pesquisável. A compra e a manutenção desse software também têm um preço e depois é necessário investimento no sentido de promover actividades que possamos fazer com a comunidade, como exposições ou actividades com as escolas”, salienta.
Outra das preocupações actuais da chefe de Divisão do Arquivo de Ponta Delgada prende-se com a falta de espaço para guardar os arquivos, informação que garante já ter sido dado conhecimento à respectiva tutela.
“O edifício foi inaugurado em 2000 e neste momento o que posso dizer, e é algo que a tutela já sabe, é que estamos com o limite de preenchimento quase atingido. O nosso grande problema neste momento é o espaço. Isso vai implicar uma decisão da tutela para a ampliação do edifício ou da construção de um outro edifício”, diz.
Ana Cristina Moscatel faz igualmente questão de destacar que o actual edifício “não é desprovido de condições. Temos depósitos que têm temperatura e humidade controladas em que há sempre uma vistoria de controlo semanal”, diz.
Ana Cristina Moscatel revela que a instituição recebe arquivos, apesar do boom informático que se deu nas últimas décadas, “maioritariamente em papel” e que foi celebrado ontem o contrato de depósito do arquivo da SATA, que deverá começar a entrar no Arquivo Regional, durante o dia de hoje.
“É uma boa forma de celebrar o Dia Internacional dos Arquivos (…) Este arquivo é parte da nossa história e fazia todo o sentido estar no Arquivo Regional”, destaca.

Luís Lobão

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