Claudia Correia é jornalista, assistente social e mestre em planejamento urbano | Foto: Arquivo pessoal - Foto: Foto: Arquivo pessoal

É urgente desconstruir concepções racistas que pregam que os indígenas “são poucos no Brasil, estão aculturados, não precisam de tanta terra”. É preciso falar de nações indígenas diversas, exigir respeito aos seus direitos constitucionais.

Pressionada por grupos econômicos que se aliam a políticos vinculados ao agronegócio, a população indígena sobrevive em territórios cobiçados pela exploração capitalista predatória. Na saúde, os povos originários enfrentam a Covid-19 em precárias condições de assistência, assediados por falsos pastores e bombardeados por fake news para que não aceitem a vacina. Sem falar na dificuldade de acesso em algumas áreas e a adoção pelo Ministério da Saúde de critérios restritivos no Plano Nacional de Imunização. Só estavam previstos ser vacinados indígenas aldeados, em terras demarcadas. O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu determinar a vacinação de todos os povos indígenas, o que ainda não se concretizou.

Na Bahia o cenário se repete. O estado figurava segundo o último censo do IBGE em 2010, como o terceiro em população indígena, somando 56.381 pessoas. Segundo a Associação Nacional de Ação Indigenista (Anaí), hoje são cerca de 30 grupos indígenas e 70 territórios no estado.

Demandas na educação, saúde, demarcação de terras, acesso à água e estradas, suporte para a produção econômica são cobradas por lideranças. Os universitários precisam de assistência, os professores indígenas de salários justos, as escolas de estrutura e os estudantes de suporte para aprenderem no mundo virtual no contexto pandêmico.

Muitos territórios aguardam demarcação ou ampliação. No sul da Bahia, na Serra do Padeiro, os Tupinambá lutam para permanecer nas suas terras, delimitadas pela Fundação Nacional do Índio (Funai) desde 2009. Dia 16 de abril, contrariando decisão do STF, a Justiça Federal em Itabuna determinou a reintegração de posse, trazendo insegurança à comunidade, cujo cacique Babau está ameaçado de morte.

Diante desse dramático contexto, da política genocida do governo federal e da omissão da Funai, o que comemorar neste dia 19? O que temos de celebrar é a resistência indígena, a determinação histórica de não desistir de lutar por direitos em acampamentos em Brasília e nos estados. Comemorar o investimento de jovens na formação acadêmica, os dez anos do Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba), a eleição de 15 vereadores e vereadoras indígenas no estado, a ocupação de espaços em conselhos de direitos, as campanhas para enfrentar a fome e a pandemia nas comunidades, o engajamento das mulheres na militância.

E para reforçar o mote do movimento indígena, resta, como cidadã (e para toda a sociedade) que acredita que não há democracia sem igualdade racial, repetir o grito de guerra “Diga ao povo que lute. Lutaremos! Demarcação Já!”.

*Claudia Correia é assistente social, jornalista e mestre em planejamento urbano

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