De olho no espólio de Jair Bolsonaro, Romeu Zema acena para os eleitoras da extrema -direita e replica a cartilha antiambiental bolsonarista

Nos últimos meses, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), publicou frases do líder fascista Benito Mussolini, chamou a Inconfidência Mineira de golpe e classificou os nordestinos como “vaquinhas que produzem pouco”, entre outras patacoadas.

“Ela trabalha aqui?”, perguntou o governador ao ser presenteado por um locutor de uma emissora de rádio de Divinópolis com um livro da Adélia Prado – sem ao menos ficar com as bochechas vermelhas.

Desconhecendo a principal poetisa mineira, Zema investe seu tempo de leitura no guru bolsonarista Olavo de Carvalho. “Estudar de menos e opinar demais. Essa é a melhor desgraça do brasileiro”, escreveu o governador no último sábado 13 em suas redes sociais citando uma frase de Carvalho.

Os sinais dados por Zema mostram que ele busca ostensivamente o espólio do ex-presidente Jair Bolsonaro, que está inelegível e cada vez mais enrolado com as investigações sobre a apropriação das jóias da Presidência.

Herdeiro do grupo de lojas, financeiras e concessionárias que carrega no sobrenome, o governador prega a meritocracia com o conforto de um patrimônio declarado de 130 milhões de reais. Valor três vezes superior ao que o governo mineiro vai investir para recuperar uma estrada que leva até o sítio da sua família, o Rancho Zema.

Principal nome do Partido Novo, Zema replica em Minas Gerais a linha de atuação da legenda nas questões socioambientais. Quando o assunto é meio ambiente, Novo e Zema rezam a mesma cartilha de Bolsonaro e do deputado federal Ricardo Salles, que está no PL, mas emergiu nacionalmente filiado ao Novo quando se tornou ministro do meio ambiente.

Na legislatura em que estreou no Congresso, entre 2018 e 2022, o Novo foi o pior partido para a causa socioambiental na Câmara, segundo o Ruralômetro, ferramenta desenvolvida pela Repórter Brasil que avalia o desempenho dos parlamentares em questões ligadas ao meio ambiente e aos povos do campo.

Nas votações de projetos cruciais para o meio ambiente no plenário da Câmara, os oito deputados do Novo se colocaram ao lado da bancada do agronegócio, dos políticos do Centrão e da base de apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL).

A tática de aniquilar a fiscalização é idêntica. Reportagem da Agência Pública contabilizou que o comandante da fiscalização ambiental foi trocado 11 vezes em quatro anos. Atualmente, é um coronel aposentado da Polícia Militar. Exatamente como fizeram Salles e Bolsonaro com o ICMBio, que retiraram técnicos com capacidade e conhecimento de uma área sensível e colocaram militares aposentados alinhados ideologicamente.

A falta de comando na fiscalização deu resultado. No primeiro governo de Zema, Minas Gerais perdeu 166,7 mil hectares de florestas naturais, o que equivale a cinco vezes a área de Belo Horizonte. O desmatamento cresceu 82,2% comparando com o período anterior e deixou Minas Gerais na liderança entre os estados que mais destruíram a Mata Atlântica.

Publiquei uma reportagem, em 2021, revelando um episódio emblemático da política ambiental de Zema. O governo mineiro chegou a emitir a licença prévia autorizando a construção de uma fábrica da cervejaria Heineken em Pedro Leopoldo, que afetaria uma área de importância ambiental e arqueológica. No local fica o complexo de cavernas onde foi encontrado o crânio de Luzia, fóssil humano mais antigo das Américas. Após a repercussão negativa do caso, a própria cervejaria desistiu da obra e transferiu o investimento para outra cidade.

O governo Zema também faz vista grossa para a tentativa de minerar a Serra do Curral – cartão postal da capital mineira. Órgãos estaduais apresentaram pareceres favoráveis à atividade e o governador nomeou para a presidência do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) a prima do diretor-executivo e sócio da empresa que quer minerar a serra. A mudança ocorreu, após o antigo presidente do Iepha encaminhar ofício ao Ministério Público mostrando possíveis ilegalidades no processo de licenciamento da mineradora.

Diariamente o governador fotografa a tela de seu computador com uma frase e compartilha nos stories do Instagram. Depois de Olavo Carvalho e Benito Mussolini, que ninguém assuste se, em breve, Zema escolher a frase lapidar de seu ex-correligionário Ricardo Salles: “Ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”.

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