Cedefes participa de Roda de Conversa e de um Cortejo no FestiVelhas em Jequitibá sobre Povos Tradicionais e seus direitos

15/09/2018

Por Alenice Baeta

No dia 08 de setembro, dentre várias reuniões, oficinas e apresentações previstas nas atividades do FestiVelhas, ocorreu uma importante roda de conversa mediada pela arqueóloga e historiadora, Alenice Baeta, membro do Instituto Guaicuy, sobre “Os Povos Tradicionais do Rio das Velhas”, dentro da programação do FestiVelhas, em Jequitibá. Compareceram a esta atividade representantes indígenas, quilombolas, carroceiros, agricultores familiares, povos do terreiro e congadeiros.

Chamou a nossa atenção o cuidado com a escolha e a preparação do lugar onde ocorreu a roda – na orla da lagoa central de Jequitibá, próxima a árvores frondosas, em ambiente sombreado, cheio de pássaros (defronte à igreja histórica Santíssimo Sacramento), que foi cuidadosamente preparado e decorado pela equipe do Projeto Manuelzão, com almofadas, cangas, artefatos típicos dos povos tradicionais, tais como, redes, remos, peixes, flores e instrumentos musicais. Os representantes indígenas fizeram inicialmente pinturas corporais utilizando urucum e jenipapo nos participantes, tendo ainda realizado vários cânticos e danças circulares antes e ao final das falas de todos, em homenagem às águas e aos seres que nelas vivem.

O coordenador do Projeto Manuelzão, Marcus Vinícius Polignano, reforçou a noção da valorização das comunidades tradicionais e de sua dignidade e que estas seriam as principais protetoras das águas sagradas do rio das Velhas. Em seguida, foi feito um minuto de silêncio em respeito ao trágico incêndio que destruiu o magnífico acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro, lembrando que fósseis e esqueletos de indivíduos pré-históricos oriundos de cavernas do vale do rio das Velhas, incluindo o da emblemática Luzia, teriam também desaparecido nesta inaceitável tragédia.

O primeiro representante das comunidades tradicionais a falar, foi o indígena Merong Kamakã Mongoió que contou a saga de sua família, perseguida em várias localidades da Bahia, até chegar a Minas Gerais, onde parte de sua geração já teria nascido. Contou das dificuldades de moradia em Belo Horizonte e da recente retomada ou ocupação de seu povo em uma fazenda no vale do Paraopeba, município de Esmeraldas – onde buscam o direito de uma terra coletiva onde possam plantar, colher e viver as suas tradições culturais. Em seguida, falou Kapua Lana Puri, cuja família é de Corinto, que narrou a história do povo indígena Puri em várias localidades de Minas Gerais e a luta pela visibilidade e seus direitos.

O Pai de Santo Tico, por sua vez, reforçou o grande orgulho que possui de ser integrante da umbanda e da guarda de reinado de Moçambique, e disse que é preciso resistir e combater a intolerância religiosa.

Na sequência, falaram os representantes da comunidade tradicional carroceiros, que vêm sofrendo nos últimos anos uma política elitista e de exclusão na RMBH. Alguns deles também foram tropeiros tendo aprendido este ofício com seus pais ou avós. Contaram  que há anos trabalham na difícil realidade das cidades puxando carroça, sustentando suas famílias, mas reforçaram que amam a sua profissão. Eles ainda entoaram com orgulho a frase estampada em suas camisetas: “A cidade é nossa roça, nossa luta é na carroça!”

Na última etapa da roda, ouvimos os depoimentos dos senhores José Silvério e  Joaquim, agricultores familiares, que contaram um pouco sobre o cotidiano da lida com a terra, sementes e o grande compromisso que possuem com a vida e com a dignidade humana.

O músico e ator Paulinho do Boi, tocou músicas de raízes na roda e divulgou o trabalho do Grupo Carroça Teatral, que busca divulgar peças relacionadas ao folclore brasileiro e sua valorização. Após o término da roda, os participantes saíram em cortejo pela cidade divulgando as bandeiras e os direitos dos povos tradicionais. Além de representantes do CEDEFES, compareceram integrantes do grupo de pesquisa Kaipora (UEMG) e da Ong AMANU (que apoia inúmeras comunidades quilombolas na região de Jaboticatubas).

Parabenizamos o Projeto Manuelzão pelo belíssimo FestiVelhas 2018 banhado por debate sério, profundo e politizado, comprometido com a proteção da bacia do rio das Velhas e com a dignidade de seus povos e seres.

Marcus Vinícius Polignano Coordenador do Projeto Manuelzão e representantes de povos tradicionais- agricultores familiares e carroceiros na roda de conversa do FestiVelhas. Foto: A. Baeta.

 

Representantes indígenas Kapua Lana Puri e Merong Kamakã Mongoió na Roda de Conversa sobre Povos Tradicionais do Festivelhas 2018.Foto: A. Baeta.

 

Representantes da Associação dos Carroceiros e Carroceiras da RMBH com Rogério Sepúlveda (Presidente do CBH Velhas 2007-2013 e colaborador do Projeto Manuelzão/UFMG) durante o Cortejo dos Povos Tradicionais no FestiVelhas 2018, em Jequitibá. Foto: A. Baeta.

 

 

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