Liderança do Movimento Geraizeiro denuncia emboscada

04/09/2017

Hilário Corrêa Dbazakzêkõ via Pablo Matos Camargo

Os crimes de grilagem de terras e extração ilegal de madeira continuam em curso na região do Alto Rio Pardo [Minas Gerais]. E com eles, o atentado contra a vida de lideranças que resistem na defesa do Cerrado e das águas, pela garantia de seus territórios tradicionais. No último dia 29 de agosto, Orlando dos Santos e Joelice Crisóstomo sofreram emboscada na comunidade de Campo Verde, antigo Entroncamento, município de Novorizonte. O atentado ocorreu após o Movimento Geraizeiro denunciar ação criminosa de roubo de madeira e instalação de carvoeiras, praticada por madeireiros. No momento em que o casal fazia a representação do Ministério Público, uma área de mais de 200 hectares foi incendiada. A comunidade suspeita desse mesmo grupo.
Orlando, imaginando que a denúncia poderia gerar alguma retaliação, levou sua esposa Joelice à Escola Municipal Deolinda Gonçalves Pereira, local onde trabalha no período da manhã. Por volta das 11h30, quando retornavam para casa, um casal tentou agredir Orlando e Joelice com capacetes, cadeiras e socos no retrovisor e na lateral do carro. Mais à frente, um grupo de pessoas os aguardava com pedaços de paus e pedras que usaram para jogar no carro.
A emboscada maior estava armada na estrada que leva à casa de Orlando, com informações, inclusive, de porte de arma de fogo. O casal, ao desconfiar dessa possibilidade, passou por outro caminho. “Essas ações são motivadas pela denúncia de furto de madeira. Nós denunciamos o grupo de madeireiros que estão explorando madeira ilegal. Sempre saindo madeira, com motosserra, trator, caminhão. Enquanto ficava só na conversa, não prejudicou. Depois que a polícia notificou um por um, veio a ira deles”, desabafa Orlando. “O nosso problema é o Estado, que não anda, não garante as terras para os geraizeiros. É moroso. Faz tempo que esta questão está na mesa de diálogo, mas o Estado não anda. Não garante o território. A polícia também poderia fiscalizar mais”, completa.
Não é a primeira vez que lideranças geraizeiras foram vítimas de ação violenta ou de criminalização. Nos últimos tempos, essas ações têm aumentado, o que tem deixado o Movimento Geraizeiro em alerta. Em 2015, Dona Vina, liderança do Movimento Geraizeiro no município de Fruta de Leite, teve sua casa incendiada. Seu Júlio, da comunidade de Martinópolis, no mesmo município, sofreu agressão física. Em maio de 2017, Seu Adão, do município de Rubelita, sofreu tentativa de homicídio praticado por um jagunço.
O atentado já foi denunciado à Promotoria de Justiça da Comarca de Salinas, à Polícia Ambiental de Taiobeiras, à Polícia Militar de Fruta de Leite, ao Promotor José Aparecido de Montes Claros e ao Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos. Os boatos sobre novos atentados continuam, inclusive com recados para que o casal não apareça na comunidade de Campo Verde. “Eu temo pela nossa vida, principalmente, pela minha mulher que trabalha na comunidade e que não pode parar a vida por causa disso. Por isso pedimos providência do Estado na garantia do nosso território e na investigação desses crimes e punição dos culpados. Só assim a paz vai reinar”, desabafa.

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